domingo, 1 de novembro de 2009

Nº 8 Dialogismo

Flamboyants se enfileiram no espaço urbano. Na primavera e já anunciando o verão, alegres e nos alegrando com a exageração de seu vermelho. Um dia, eles nos inspiraram o seginte poema já publicado no livro de poesias Laços:
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxEu e o Flamboyantxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Procuro em cima do muro as flores de fogo
só há galhos murchos em vez das flores de fogo.
A voz da cachoeira, dos pássaros, da brisa confirma:
"O processo não falha, voltarão as folha de fogo".
Nem pétalas, nem vermelho, nem olores
no inverno da vida , também espero pelo fogo das flores.
Vão embora no outono e voltarão no verão. Sinalizam o movimento cíclico do mundo: o dia e a noite, os meses e as estações do ano, o nascimento, a morte e o renascimento et coetera. Vão e voltam. Expandem-se e contraem-se.
Podemos comparar com o movimento cíclico descrito no Bhagavad Gita se bem que neste há a incalculável magnitude de 4.320.000 anos solares entre uma expansão e uma contração.
O Bhagavad Gita é o livro sagrado do hinduísmo. O período de fluxo e refluxo eterno é nessa religião denominado Kalpa. Trata-se do período de atividade criadora que se repete cada 4.320.000 anos solares. Chamam também este fenômeno Dia de Brama ou Respiração de Brama. O deus Brama inspira mundos e expira mundos.
Diz o deus Krishna: Ao terminar a noite de um tempo, todos os seres e todas as coisas retornam a mim: ao início do novo dia de outro tempo emano de mim todas as coisas e todos os seres, dando-lhes nova existência.
Saindo do Oriente para voltar ao Ocidente, vamos ouvir Pitágoras (582-497 a. C.), um dos maiores filósofos pré-socráticos. Seus ensinamentos são herméticos, de difícil entendimento mas a teoria que chamou de tetractys é um pouco mais acessível e está em consonância com o que estamos escrevendo. Ele diz que o Um se irradia e se torna múltiplo. Dessa UNIDADE nasce a pluralidade, a diversidade, o antagonismo aparente. Depois contraindo-se, reúne-se novamente no Um. Para a Escola de Crotona essa transcedente metafísica é representada pela "tetractys": 1+2+3+4=10. Dez é o numero perfeito, por representar o Um multiplicando-se , expandindo-se, depois contraindo-se até formar nova unidade: 10-4-3-2=1.
O ritmo de nascimento e morte, expansão e contração, fluxo e refluxo é eterno e repete-se em todas as manifestações naturais neste nosso planeta Terra. É a "Lei do Eterno Retorno", que às vezes se verifica em períodos de tempo incomensuráveis e por nós desconhecidos.
A "tetractys" de Pitágoras demonstra este fenômeno matematicamente e podemos observar que seu simbolismo generaliza-se.
Por exemplo, está presente no Gênesis através do mito de Adão e Eva, os arquétipos da humanidade. O casal-símbolo foi tentado pela compulsão do conhecimento a provar o fruto da árvore do Bem e do Mal, o saber secreto que daria ao homem os poderes para os quais ainda não estava preparado. Foi expulso do paraíso, onde vivia em estado de imaculada pureza e decaiu nas trevas do materialismo, do erro e da provocação. Saiu do inconsciente e retornou em espiral evolutiva, purificado para a luz da consciência, do conhecimento do Bem. Executou o caminho do Um de sua origem para o múltiplo de sua individualização e voltou à unidade.
Vale lembrar que as histórias bíblicas são mais simbólicas que uma descrição verídica dos fatos. Os mitos da Bíblia encontram-se também no fundamento de outras religiões da antiguidade, na doutrina dos filósofos iniciados e no cristianismo.
O dilúvio foi uma tsunami quando não havia a mídia para noticiar e explicar o fato nem havia os atuais conhecimentos da geologia. Outros inúmeros exemplos semelhantes podemos encontrar, se nos dispusermos a pesquisar a simbologia religiosa.
É importante saber que não são afirmações mentirosas, são alegorias que ocultam um significado profundo.
A respeito do movimento cíclico, comentado com apoio no Bhagavad Gita e na teoria de Pitágoras, o filósofo Heráclito (540-470 a. C.), referindo-se ao núcleo de energia universal, diz que é a "fonte principal inesgotável da qual tudo brota e à qual tudo regressa". Sobre a lei da transformação do ser, diz: "Toda morte é nascimento numa nova forma, todo nascimento, a morte de uma forma anterior; todas as coisa se transformam a cada momento, nada é estável, tudo está em eterno movimento".
Uma das diferenças entre Heráclito e Pitágoras, ambos gregos e pré-socráticos, é que o último se ligou a teoremas matemáticos e a dogmas religiosos como a metempsicose ou transmigração das almas. Ele revitalizou a religião órfica, criando um movimento religioso que corresponde, na época cristã, ao que se pode denominar espiritismo: "Tudo que nasce torna a nascer nas revoluções de um determinado ciclo, até se libertar efetivamente da roda dos nascimentos".
Já Parmênides baseava-se na crença de que a realidade é eterna e intemporal, era o Ser , e por conseguinte, toda mudança é ilusória. Daí infere que não existe o que chamamos de movimento das coisas. Resumia sua filosofia em: o Ser é e o não ser não é. Sua mentalidade era metafísica.
Mas se notamos as mudanças e a impermanência nossa e do mundo em geral é bom que as encaminhemos para que nos levem a autotranscedência que inclui a evolução e a criatividade.
É preciso observar que o nosso sistema sócio-político é ecocida, geocida e homicida. Nele presenciamos as "Infelizes mutações" como as seguintes:
A árvore solitária,
no alto do morro ,
está contorcida.
As raízes à mostra.
A máquina de fabricar edifício
em ação.
A árvore já caiu.
Quase ninguém viu o óbvio.
Caiu agora.
Os galhos ainda não secaram,
se esticam e dão o último
adeus.