quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Nº 20 O ANJO MAU

Há dias uma jovem nos perguntou por que gostamos tanto dePrometeu e repudiamos Lúcifer.
Referimo-nos a Prometeu nos blogs 12 e 18, movidos por uma pergunta tão inteligente, voltamos a refletir sobre ele, agora para comparar com Lúcifer.
O corajoso Titã que no mito roubou o fogo aos deuses no Olimpo e trouxe para nós, merece nossos aplausos porque o fogo nos proporcionou um enorme progresso material e espiritual. E não consideramos ter cometido um pecado de desobediência, uma vez que sabemos que Zeus é um deus falso, pertencente ao politeísmo grego e que indiscutivelmente não é o nosso Deus. Achamos que Prometeu não foi um Tentador como Lúcifer e sim, levando a sério a ficção , foi um benemérito do gênero humano, do qual ele foi o Criador. Ele próprio pagou por sua falta, não fomos castigados pelo benefício que recebemos.
A liberdade de "criar homens ou animais" suscita uma polêmica: até onde vai o poder do homem neste sentido? Não se sabe se estamos preparados para isto. A clonagem da ovelha Dolly até hoje é discutida. Vamos deixar em aberto a discussão. A filosofia é uma eterna discussão. Reflitamos, discutamos.
Continuamos nossa exposição.
Lúcifer pertence à mitologia judaico-cristã que veio depois da grega, embora sua história seja parecida com a de Prometeu, merece um estudo à parte, pois são dignas de nota as diferenças entre ambos que vamos continuar explicando.
Atentemos sobre o mito de Lúcifer, com apoio no Gênesis, livro do Antigo Testamento da Bíblia. Lúcifer, que é o mesmo demônio, diabo, tentador, anjo mau, satanás, maligno, dragão, serpente etc., tenta Eva para comer a "maçã", isto é o fruto proibido da árvore do conhecimento do Bem e do Mal. Ela come e tenta Adão para fazer o mesmo.São os três duramente castigados: Eva, Adão e o Tentador. E o castigo se estende a toda a humanidade, com uma chance de recuperação que obtivemos através de um Salvador, Jesus, o Cristo.
Fazemos a seguinte leitura desta passagem da Bíblia: O casal-símbolo recebeu os poderes relativos ao saber secreto, proporcionado pelo fruto da árvore do Bem e do Mal, o que equivale aproximadamente a ter recebido o fogo do Olimpo no mito grego. Mas deve pagar pelo seu pecado de desobediência : expulso do Jardim do Éden , onde vivia em estado de imaculada pureza, foi condenado a adquirir o conhecimento, através do sofrimento. Só purificado pela Luz do conhecimento do Bem, pôde voltar, mais tarde, ao paraíso, o núcleo de energia universal, a fonte inesgotável da qual tudo brota e à qual tudo regressa. Geralmente, frequenta-se uma Igreja e/ou pratica-se o Bem com medo do 'inferno". Não acreditamos no "inferno". Lembramos neste instante de Lucrécio, um estudioso de Epicuro, quando em seu poema, "De natura rerum", escreveu: "A raiz do medo é tão geral que podemos afirmar que estamos todos doentes de nossos medos: Qual é o homem que não está apertado pelo medo? Ó raça infeliz dos homens que preferem a cólera cruel dos deuses." Concordamos com o epicurista. Acreditamos, porém, no caminho alquímico, iniciático, onde a personalidade-alma evolui e alcança o aperfeiçoamento. A maioria antropomorfiza o Deus da Bíblia, o adora e age diante do mito bíblico com um forte sentimento de religiosidade que trará remorsos e medo de ir para o "inferno", se ouvir a voz da "serpente " e desobedecer às ordens divinas.Também nós, autores deste blog, detestamos Lúcifer e queremos o espírito mau bem longe de nós. Não acreditamos no "inferno" mas acreditamos no Mal, isto é, sabemos que ele existe.Em nossos blogs 10 e 11 dissertamos sobre o Bem e o Mal. Agora, por estarmos discorrendo sobre Lúcifer , vamos esclarecer um pouco mais sobre o Mal. Lúcifer é a personificação do Mal.
No capítulo 1 do Gênesis está dito que Deus fez tudo bem. Portanto, o Mal não se originou do Criador. Se o Mal entrou no mundo foi de acordo com a Bíblia, pela culpa de nossos primeiros pais. O Tentador se apresenta sob a forma do mais astuto animal. Tomamos a serpente como o símbolo do demônio. Mas pode também ter sido um animal possesso e/ou ter apenas a aparência de serpente, para deste modo, o Tentador mais facilmente induzir o homem ao pecado através da primeira mulher.
Procurem assistir ao DVD, Meggido, para que fique mais fácil ter uma ideia de nossa posição a respeito deste assunto.
O filme é uma luta do Mal contra o Bem e vice-versa.
O Mal começa a manifestar-se com o ciúme: trata-se do ciúme que Stone (pedra) tinha de seu irmãozinho recém-nascido, David. O sentimento de perda de Stone se agrava porque sua mãe tinha morrido de parto. Um problema psicológico que não se resolve e que vai piorando sempre porque Stone não é tratado devidamente, pelo contrário, é incentivado sempre a tornar-se um agente de Satã, pois chegamos à conclusão que este já existe, criado pelas mentes dos homens de tanto que pensam nele, pelas vibrações negativas de nossos pecados: raiva, ambição, vaidade, libertinagem, inveja e muitos outros. O pensamento humano é muito forte, ele também cria, mas suas criações, se são más, têm pouca consistência e serão sempre destruídas pelas criações do Criador, Deus, que não é Zeus, nem um ser prepotente que está sentado num trono lá no céu. Deus é uma força determinante de tudo, uma energia incalculavelmente grande, entretanto nos dá o livre arbítrio. Seu destino é o que você escolhe.
Stone foi encaminhado pelo pai para uma educação militarizada, apoiada na força física e chegou a consequencias terríveis inimagináveis, sempre sádicas e dominadoras.
Meggido não é um simples filme banal, maniqueísta, sensacional, é uma ficção que, embora muito comprometida com o mito bíblico, nos traz uma grande contribuição. Qual texto que é livre de um engajamento qualquer? O receptor é que deve fruí-lo com os olhos o mais livres que for possível.
Já tivemos Hitler e outros políticos e líderes famosos, tão de pedra e desumanos como Stone. Os acontecimentos se deram pela escolha do próprio Stone, de seu pai e de muitos que o apoiaram, até que David, portador do nome da família de Jesus, liderando outros representantes do Bem, vence Stone, o agente de Satã.
O final feliz de Meggido invoca o Mestre Jesus, o querido essênio que onde chega,vence o demônio e exorciza as criaturas possessas. Não é só Jesus que tem este poder, há outros Mestres, com variadas denominações que também o têm. Exorcizar o demônio, na verdade, é tirar o envenenamenteo mental das pessoas que acolheram o pensamento negativo no âmago de seu ser. Mas os Mestres não o fazem sozinhos. É necessário que o indivíduo "presa do demônio" tenha algum grau de consciência de seus processos psíquicos e da capacidade de controle ou domínio dos mesmos.
Evidencia-se a necessidade da educação dada pela família, escolas, igrejas, sociedades iniciáticas etc., hoje quase impossível pela má influência da mídia impressa ou da televisão ou da Internet. O Mal semeado pelos meios de comunicação de massa são as novas correntes que prendem Jesus, no Cáucaso, como se fosse o centauro Quíron, que substituiu Prometeu. E o maligno, isto é, toda a degradação e violência do mundo destroem o fígado ou seja a vida do Salvador e, consequentemente impede a regeneração dos homens. Estamos indo adiante da comparação que fizemos entre os dois mitos, Prometeu e Lúcifer.
Como nosso discurso apoiou-se, por razões óbvias, sobretudo na Bíblia, queremos citar resumidamente as principais passagens que estudamos, orientados pela pedagoga e pastora Eliza Pandino e por seu esposo, o pastor e psicólogo Walter Luís Terra Peixoto.
Disse então o Senhor Deus à serpente: Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar . Gênesis,3,15. Esta mulher é Maria, a mãe de Jesus, para os católicos: Nossa Senhora que recebe diversas designações.
Trava-se claramente o combate entre o Bem e o Mal, com a vitória do Bem, no Apocalipse, capítulo 12, do qual transcrevemos os primeiros versículos. 1 Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo de seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas. 2 Estava grávida e gritava de dores, sentindo as angústias de dar à luz. 3 Depois apareceu outro sinal no céu: um grande Dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, e nas cabeças sete coroas. 4 Varria com sua cauda uma terça parte das estrelas do céu, e as atirou à terra. Esse dragão deteve-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de que, quando ela desse à luz, lhe devorasse o filho.
5 Ela deu à luz um Filho, um menino, aquele que deve reger todas as nações pagãs com cetro de ferro. Mas seu Filho foi arrebatado para junto de Deus e do seu trono. 6 A Mulher fugiu então para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um retiro para aí ser sustentada por mil duzentos e sessenta dias.
7 Houve uma batalha no céu, Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, 8 mas não prevaleceram. E já não houve lugar no céu para eles. 9 Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com ele os seus anjos.
Para que os leitores se exercitem na prática de ler a Bíblia, deixo a interpretação e a continuação de sua leitura a critério de cada um. Apenas queremos chamar a atenção para a palavra Mulher escrita aí com letra maiúscula, uma exaltação a Maria SS. ou o símbolo da mãe mística, a cidade de Deus, a Jerusalém celeste ou a Igreja que dá à luz os cristãos.
Finalizando ainda vamos referir-nos a mais dois versículos da Bíblia, com um pequeno comentário. Lúcifer, o que porta a luz, não se iguala a Prometeu , quando traz o fogo para os homens. Lúcifer não é um herói, é um anjo decaído. Aí vão os dois versículos que escolhemos entre vários dentro desta temática: Apóstolo Paulo, aos Coríntios II ,11, 13 Esses tais são falsos apóstolos, operários desonestos, que se disfarçam em apóstolos de Cristo, 14 o que não é de espantar. Pois, se o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz,
Apesar de o texto bíblico continuar, fazemos aqui o ponto final deste blog, pois, por hoje, cumprimos nosso objetivo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

nº 19 Entrevista com Édipo Rei

Daremos a palavra a Édipo Rei, também um mito grego e também caro aos psicanalistas, como Prometeu, que estudamos anteriormente. Transcreveremos uma ligeira peça de teatro que compusemos e representamos em público. Anna desempenhou o papel da jornalista entrevistadora e Nando o de Édipo.

A. _ Vou ao Tártaro entrevistar Édipo Rei, o mito mais badalado do Ocidente. Parto para um abismo nas profundezas do inferno. A entrevista será televisionada, liguem para o canal zero para assistirem. Zum um um um... Que lugar horroroso em que foram aprisionar Édipo! Édipo, Édipo, Édipo. Onde está ele? Achei! Édipo, preciso falar com você.
E. _ Pois não! Por favor pode me julgar e também meus amados semelhantes da platéia podem me julgar.
A. _ Você está pagando por seu nefasto crime: você matou seu pai, se casou com sua mãe e teve com ela 4 filhos.
E. _ Isto é invenção dos mitólogos. Não matei meu pai nem me casei com minha mãe. Pago pelo crime que Sófocles e um tal de Sigismundo Freud inventaram.
A. _ Toda invenção, Édipo, se apoia em alguma verdade. Conte-me sua verdade.
E. _ É óbvio que Laio , meu pai, se casou com Jocasta, minha mãe e que eu nasci. Isto é notório,é evidente. Ele em solteiro inaugurou os amores homossexuais na Grécia, raptando Crisipo, o belo e jovem filho de Pélops e se envolvendo sexualmente com ele. Aliás uma preferência sexual de tanto futuro e tanta tragicidade no mundo inteiro... Era um inseguro e teve medo de mim, teve medo de ser castigado por seu abuso, por isso quis me matar.
A. _ Não dê voltas, Édipo, você foi o pior dos mortais, matou seu pai e casou-se com sua mãe.
E. _ Eu ignorava que Jocasta era minha mãe e que Laio era meu pai. Eles me rejeitaram. Aceitei a mão de uma bela e desejada rainha que me foi oferecida, privilégio que recebi como prêmio por minha vitória contra a Esfinge que assolava Tebas.
A. _ Você é um mentiroso: que Esfinge é esta?
E. _ Eu viajava, por necessidade, de Corinto, onde vivi, para Tebas. Quando entrei em Tebas, encontrei uma população em pânico, pensei até que estava entrando no Brasil, na época da ditadura militar. É que todos estavam com medo da Esfinge. Consegui entrar porque eu tinha decifrado o seu segredo.
A. _ Você sempre mentindo e querendo ser herói.
E. _ Explico: Um terrível monstro estraçalhava que não decifrasse seu enigma. Ali estava ele no meu caminho, um terrífico pesadelo que parecia emergir do mundo dos mortos. Cabeça e peito de mulher, corpo de cachorro, garras de leão, cauda de dragão e asas de passarinho. "Decifra-me ou devoro-te". Propôs-me a pergunta, confiante e esboçando seu famélico sorriso: "Qual é o animal que tem voz, e que, de manhã, anda com quatro pés, ao meio-dia com dois e, à tarde, com três ? Não tive medo, pois só quem é ignorante tem medo. Olhei fundo nos olhos, da Esfinge e respondi: O animal que tem voz, e que, de manhã, anda com quatro pés, ao meio-dia com dois, e, à tarde com três, é o homem. Na manhã da vida, engatinha, anda com quatro pés, no seu meio-dia, firme e ereto, caminha apoiando nas suas duas pernas e, na velhice, isto é, ao entardecer de seu percurso existencial, vergado no chumbo dos anos, vale-se de um bastão, sua terceira perna, para prosseguir até o final de seus dias. A Esfinge, desesperada, jogou-se no precipício e morreu.
A. _ Você foi um cabotino: você é um ignorante , não conhecia nem seu destino e nem sabe quem é o homem.
E. _ Mas isto ela não me perguntou e eu precisava entrar em Tebas.
A. _ Jocasta não estava casada com Laio? Como lhe ofereceram a mão dela?
E. _ Todo mundo sabe, era minha sina. Aqui onde estou não há lugar para as fraquezas humanas. Conto-lhe sem mágoa e sem melancolia. Antes do episódio com a Esfinge, no meio de meu percurso, rumo a Tebas, fugindo de meu destino, surgiu uma luxuosa carruagem com um solitário viajante e uma escolta de cinco vigorosos soldados. O viajante era o Rei Laio, meu pai, e eu não sabia. Orgulhoso, gritou: "Afastai-vos, caminhante equivocado! Abri caminho a quem tem o mando da estrada". Revidei gritando energicamente: Saia você da minha estrada. Ele não saiu. Desceu do carro. Lutamos e eu matei meu desafiante. Ali começava meu mito.
A. _ É você está sendo o bode expiatório, está sendo condenado pelos crimes da humanidade. Dizem que você é deflagador da grande e terrível mudança no processo civilizatório, desrespeitando o nome do pai e o nome da mãe. Injustamente você foi marcado desde seus calcanhares infantis. Você existe mais no espaço do símbolo que no espaço da vida. E tem o mérito de ter propiciado o aparecimento de tanta obra literária e de ajudar a explicar tantos desencontros. E, se não fosse o célebre "complexo de Édipo", que seria dos psicanalistas e dos analistas?
E. _ Vocês me condenam ou me absolvem? (para a plateia)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

nº 18 A volta de Prometeu, o vencedor dos deuses


Cometemos um erro no final do blog nº 17 dizendo que Prometeu era filho de Zeus. Na verdade, era um adversário deZeus. Era filhode Jápeto e da ninfa oceânica Clímene. Mas era um diplomata como certos políticos de hoje e tinha sido admitido noOlimpo, onde Zeus, o deus dos deuses, fez sua casa, depois que destronou Cronos, seu pai.

Acontece que mesmo destronado, Cronos continua comendo tudo rapidamente, por isso corrói nosso tempo e, quase sempre, somos obrigados a demorar muito na publicação do jornalzinho Filosofia: O Saber com Sabor. Desculpe-nos.

Assim sendo, só hoje podemos voltar a falar sobre Prometeu, a que nos referimos no blog nº 12, convidando para desamarrá-lo, inclusive em nossa consciência e atos, pois os homens não conseguimos mais, de um modo geral, usar o fogo do conhecimento que ele nos oferece, apesar de Hércules tê-lo livrado dos grilhões. Muita gente ainda vive nas trevas da ignorância e da miséria.

É proveitoso, nesta volta, esclarecermos um pouco mais a respeito do citado mito.


Prometeu pertencia à nobre raça dos Titãs que combatiam Zeus, mas era muito habilidoso e tinha conseguido assento no Olimpo, o céu da mitologia grega, onde Zeus era senhor absoluto. O mencionado Titã havia criado os homens e tinha uma obsessão: dar às suas amadas criaturas um glorioso destino, proporcionando-lhes uma força poderosa: o fogo. Firme no seu intento, tomou um galho de uma árvore seca e velozmente subiu até o carro chamejante de Febo e trouxe no galho aceso a grande chama. Desceu com a labareda e protegeu-a contra o vento, para que não se apagasse.E passou-a com toda a sua força criadora e reveladora ao domínio dos homens. Um milagre aconteceu: ei-los senhores da luz. A luz que elimina a escuridão da noite, a chama que cozinha os alimentos, derrete os metais, enrijece a argila, protege do rigor do frio, anima as festas, as reuniões. Os homens iluminaram-se e cresceram. Os homens assumiram-se para o desespero de Zeus e de seus sequazes. Os humanos não temiam mais os deuses. E preparavam-se para construir seu próprio destino. Foi um marco incomparável no processo civilizatório da humanidade. Mas foi uma desgraça para Prometeu: tal ato de ousadia e rebeldia contra Zeus não poderia ficar sem uma punição.

E a vingança divina não falhou: Prometeu foi condenado a uma tortura de trinta séculos, a de ficar atado no cimo do monte Cáucaso, com o fígado diariamente devorado por uma águia voraz e refeito à noite, e novamente devorado dia após dia. Dia após dia, ele não se aniquilou, não proferiu nem uma palavra de súplica, pelo contrário, os ouvidos de Zeus tiveram de suportar seus terríveis impropérios durante os três mil anos que durou o castigo.

Zeus não suportou mais: mandou que Hércules livrasse Prometeu dos grilhões.

E para contrabalançar a posse do fogo, Zeus enviou Pandora, a primeira mulher que desceu à terra, para lançar a confusão entre os humanos, oferecendo-a a Prometeu que, muito sabido, não aceitou, mas seu frágil irmão , Epimeteu, não resistiu à tentação, casou-se com Pandora. Ela havia trazido uma caixa misteriosa que continha todos os males do mundo, aproveitando-se da ascendência que exercia sobre Epimeteu, deu-lhe a caixa e sussurrou-lhe sensualmente: _ Vem, abre... Ele abriu! E o mundo povoou-se de todas as desgraças. E eis que de repente, num inesperado gesto castrativo, Pandora fecha a caixa, e aprisiona o único bem que ali se abrigava: a esperança. Diante de tão bons resultados, Zeus mandou outras mulheres para excitarem e seduzirem os homens. Estes perderam a noção de sua própria grandeza e já não sabiam viver mais sem os deuses.

Terminou aí a narrativa mítica. Como todo mito é simbólico, polissêmico, vem das profundezas de nossa alma e é energético.


Dentre as numerosas possibilidades que se nos apresentam para ler a metáfora do fogo, no contexto estudado, escolhemos a do conhecimento divino, a do saber intelectual, a da razão. Este conhecimento propiciou ao homem não só o progresso material, já comentado em parte mas também concomitantemente, o progresso espiritual.
É no viés espiritual, místico que pretendemos apoiar nossas reflexões. Não recorreremos aos deuses do Olimpo nem aos olimpianos atuais da sociedade de consumo como os artistas da mídia ou os famosos jogadores de futebol ou outros. A Luz Maior vem do Deus-de- Nosso -Coração e este nos determinou que, na atual conjuntura, buscássemos sobretudo o conhecimento do Bem e do Mal, para nos ajudar a realmente desacorrentar Prometeu.
Perniciosos arquétipos e nosso inconsciente individual, sob a influência da História da Cultura, nos fazem pensar que o destino nos conduz ao erro, à dor, à infelicidade. Esclarecemos que o sofrimento enquanto ajuste por erros cometidos é compreendido e tolerado com base na lei da causa e efeito, denominada carma, e contribui para o refinamento do indivíduo. Não negamos o valor dos reveses da vida. Mas nascemos para ser felizes e não devemos viver na expectativa de receber constantemente uma punição determinada por um Deus ciumento, vingativo e tirânico. Deus não é bom nem mau, Deus é. O conceito de Bem e Mal só existe no homem e para o homem. Este colhe exatamente o que semeia.
Releia, então, o blog nº 10, "O Bem e o Mal". Está fácil, aí pertinho. Releia! Poderíamos escolher outro tema: a Música, a Poesia, a Geografia ou inúmeros outros. Escolhemos "O Bem e o Mal" por acharmos ser o principal estudo a ser realizado nesta oportunidade.
Queremos observar que durante a narrativa que focalizou o mito de Prometeu e a da outra do referido blog Nº 10, que conta a conhecida história da discussão entre um professor e um estudante, assistimos a uma luta de poder: Zeus X humanos liderados por Prometeu e professor X alunos. Os subalternos desafiam a autoridade e vencem. Por isso, os psicanalistas batizaram de complexo de Prometeu a um certo fenômeno que sintetiza todas as tendências a se querer saber tanto ou mais que os pais e mestres. Obviamente certo, em muitos casos.
Outras interpretações surgiram no espaço psicológico, ligadas a Prometeu. Por exemplo, o filósofo Gaston Bachelard liga o nome deste célebre Titã a sexo. Para Gaston essa história de fogo decorre da experiência de fricção que ocorre no ato sexual. E diz mais: "O amor é a primeira hipótese científica para a reprodução objetiva do fogo. Prometeu é um amante vigoroso, mais do que um filósofo inteligente e a vingança dos deuses é uma vingança de ciúme(...) " Adiante: " ...antes de ser filho da madeira, o fogo é filho do homem." Nunca tínhamos pensado nisto. E você? O leitor está livre para fazer do mito quantas leituras forem possíveis.
Como conclusão, desejamos dizer o seguinte:
Prometeu praticou a híbris , se arriscou. Deus não nos proporciona o fogo (na sua significação metafórica positiva), de uma só vez. Temos que adquiri-lo aos poucos, com método, num contínuo aperfeiçoamento, como as escolas fazem exigindo que a aprendizagem se divida em séries. Quando as autoridades eclesiásticas quiseram condenar Galileu, por ter descoberto que o centro do sistema planetário era o Sol e não a Terra como se pensava, ele se retratou. Prometeu foi audacioso, não se retratou e pagou caro por sua audácia. Quase sempre é melhor esperarmos a época certa para se realizar as conquistas e inovações necessárias.
Também é bom não nos esquecermos de que o Deus verdadeiro não é o "Outro", não é um homem barbudo sentado num trono. É o "Todo" do qual fazemos parte. Ele precisa de nós e nós precisamos dele. Esta é uma verdade linda e emocionante.
Desejamos ainda repetir as afirmativas formuladas no final do jornalzinho nº 12:
No alvorecer da era da Era de Aquário, temos a esperança de desamarrar realmente Prometeu, saindo das abstrações discursivas, para atingir a plenitude do conhecimento, proporcionando-nos a felicidade . Conquista esta que nos levará à harmonização com a consciência suprema e à eliminação da carência e da ignorância, rumo à experiência do magnífico triângulo da Luz, da Vida e do Amor.

sábado, 21 de agosto de 2010

N° 17 Mitos e Ídolos - Continuação

Este blog é uma continuação do anterior. Tivemos que dividi-lo por exigências técnicas da impressão.
Conectando as duas partes de nosso artigo Mitos e Ídolos, inserido, portanto, nos blogs nº 16 e 17:
o ídolo é ídolo porque revela um mito. Lembremo-nos que o mito é sempre uma estorinha que impregnou profundamente nosso inconsciente. Ele se apóia nos arquétipos: os protótipos dos conjuntos simbólicos do inconsciente coletivo, descoberto por YUNG. Os arquétipos são uma forma de representação dada a priori . As representações não são herdadas, somente suas possibilidades de representação o são. Eles se manifestam como uma espécie de consciência coletiva e se exprimem através de símbolos particulares, carregados de um grande poder energético. Citamos no blog nº 16 Michel Jackson, cantor e dançarino que eletriza multidões. Emissor e receptores juntos realizam uma catarse violenta e encarnam o mito da liberdade.
As intuições míticas são de valor perene porque exprimem os mais recônditos níveis de estruturação da psique humana, da qual o consciente lógico é apenas uma expressão. As imagens, que muitas vezes representam os mitos, auditivas, visuais e outras, despertam os arquétipos adormecidos.
Estamos no terreno da Psicologia Analítica, fascinante, mas que temos de abandonar para não perder o fio da meada. Os interessados procurem os especialistas do assunto.
Há mitos brasileiros muito evidentes que se relacionam com o futebol: O garotinho que jogar bem o futebol será descoberto pelo empresário que o levará para grandes clubes, principalmente fora do Brasil e ele se enriquecerá, arranjará namoradas famosas, tornará sua família também famosa e rica. É o mito do sucesso. Criam-se as escolinhas do futebol e multiplicam-se as peladas. Multiplicam-se os ídolos: os ronaldos, os kakás e muitos outros. Dê uma bola de presente a uma criança e ela terá um futuro de campeão, de vencedor!...É uma estória brasileira muito arraigada.
Nostalgicamente, afirmamos que o brasileirinho escolhido se descaraterizará como jogador brasileiro. Não será um Pelé ou um Garrincha ou um Leônidas. Se quisermos que sejam campeões nas competições esportivas terão que se transformar em jogadores que interessam muito mais ao mundo dos negócios que ao grandioso mundo da Arte.
É bom considerar-se que a sociedade moderna vive sucumbida no mundo-objetivo que ela mesma criou. Qual Narciso, em adorando a objetividade, de fato, não faz senão adorar a si própria.
A civilização do consumo é frustrante, porque destruiu a dúvida, perdeu o senso da sadia discussão, diluiu os sonhos, a poesia, a arte, o sexo, a moral , Deus. Seu interesse está na certeza de seus projetos, baseados na visualização dos bens que ela oferece. Isso é positivo porque reclama outro espaço, outro horizonte, onde os objetos, as mercadorias não escravizem, onde é possível a criatura humana se pensar.
Há uma degradação do que se chama cultura. Mas insistimos distribuindo pílulas de filosofia.
Após a digressão, continuamos...
Analisando o futebol brasileiro, muitos outros mitos descobriremos. Ainda desejamos citar um verdadeiro fenômeno sociológico, chamado nação rubro-negra. Há muito ser flamenguista não se esgota na mera torcida. Há um estado de espírito flamenguista, uma flama, subjacente a uma paixão rubro-negra. Ser flamengo corresponde a uma instância misteriosa, superior a quase todas as demais.
No interior do mito rubro-negro, pulsa um poderoso material de estudo político, social e psicológico de segmentos urbanos do povo brasileiro. Pode explicar-se,em parte, como sendo uma compensação projetiva da ânsia destes segmentos populares de participarem do processo de ascensão social. O que a sociedade como um todo nega à maioria, esta o compensa de maneira projetiva. Não é só isto não. Há o inexplicável unindo a nação rubro-negra assistemática, dispersa e, ao mesmo tempo, poderosa e unificadora.
No futebol, o povo representa seu conflito básico; a luta entre o destino e a possibilidade de interferir na própria vida, planejando-a e pondo-a a seu serviço.
Observe os fenômenos referidos, comente-os, descubra outros, escreva e divulgue.
E não é só no futebol, não. Outro ídolo que nos impressiona é, por exemplo, Roberto Carlos, o rei simbólico que encarna o mito do lugar comum. Ele consegue equilibrar sua sensibilidade romântica, a força de seu talento e as dores de suas amarguras. Além de representar a frustração, transforma-a em arte, em canto, em poesia, sem se exceder. Assim recebe a adesão emocional de todos. Idolatrado, de um modo inédito, há mais de 50 anos.
Notamos agora que não temos mais tempo de continuar escrevendo. O devorador Cronos, pai de Zeus, este o deus que puniu severamente seu filho Prometeu, veja o blog nº 12, devorou nosso tempo. Cronos é o tempo, come tudo, só não devorou Zeus porque Gaia, a esposa de Cronos e mãe de Zeus, não deixou e incentivou o filho a destronar o pai. Mesmo destronado, o Tempo deve sempre ser vigiado.
A mitologia não tem fim mas Cronos nos obriga a parar.

sábado, 14 de agosto de 2010

N º 16: Mitos e Ídolos

Que vem a ser um mito? São tantas as respostas! A nossa preferência recai no seguinte: Mito é a representação simbólica das lutas interiores e exteriores realizadas pelo homem, no caminho de sua evolução, na conquista de sua personalidade e na satisfação de seus desejos.



Este é:



fantasioso- apela para as forças da imaginação;



pouco lógico- não tem coerência interna, é contraditório;



explicativo- se não tiver por função explicar algum fenômeno, alguma coisa, não é mito.



Idolos são pessoas idealizadas e detentoras de poderes e atitudes com quem uma boa parte da população se identifica e nas quais se projeta, por relizarem aquilo que cada um gostaria de fazer e não consegue ou que apresentam defeitos que cada um ama e teme ao mesmo tempo e que não tem coragem de reconhecer em si. É o público que fabrica o ídolo e que o cultua e o destrói. O ídolo serve para substituir a si próprio numa autoadoração ou autocastigo.



São os deuses, os olimpianos. as vedetes da sociedade. Há os ídolos do esporte, da canção popular, da televisão, da política etc. Na política, por exemplo, o Lula, nosso presidente, já citado no blog nº 1, é um deles. No futebol, Pelé, a que já nos referimos no blog nº 15. Dos estrangeiros chama a atenção, como cantor, Michel Jackson, americano. O leitor pode dar muitos outros exemplos.



Em nossa idolatria, queremos que nossos ídolos sejam os mais belos, poderosos e sábios do mundo. Já que não temos suas qualidades, nossas frustrações são, em parte, aliviadas, as tensões são recalcadas. E, quando descobrimos seus insucessos ou nos conscientizamos que somos inferiores ao retrato sonhado, nos decepcionamos amargamente. São, portanto, uma faca de dois gumes.



Os padres, os pastores, os ricos, os pobres, os gordos, os magros, todos imitamos os ídolos. Para conservarmos nossa boa aparência até depois de mortos, inventamos a necromaqiagem e a tanatoplastia. Há uma verdadeira prostituição da aparência. E o comércio leva as vantagens.






Os mitos são inúmeros e de qualquer nacionalidade. A mitologia, isto é, a narrativa que estuda os mitos é interminável.



Alguns poucos exemplos:






1. O homem tem idealizado o fim do mundo desde que tomou consciência dele. As antevisões de catástrofes assolam de preferência as sociedades em crise. No fundo, é uma desadaptação às transformações geográficas e sociais, é o horror ao desconhecido existente no enfrentamento das mudanças. A queda de sistemas sociais ultrapassados, a dos grandes impérios, as perturbações climáticas, as guerras podem levar algumas pessoas a pensarem que o mundo marcha para um fim catastrófico, apocalíptico. Frequentemente essas visões horríveis são a matéria-prima da eleboração dos mitos. È preciso lembrar que nossos pensamentos têm força. Se persistirmos na idéia que vem o fim do mundo, ele virá mesmo.






2. Os gregos primitivos afirmavam que a Terra era sustentada no espaço nas costas do gigante Atlas. Este estava em cima de uma tartaruga. E esta? Não se fazia esta pergunta.




Imagine o choque que o povo sofreu coma as pesquisas de Galileu Galilei, afirmando que a Terra não era o centro de nosso sistema planetário e sim o Sol. Não éramos mais o centro, que humilhação! E quanta instabilidade! Galileu se livrou por pouco de ser queimado pelo Tribunal da Inquisição.




3. Os trabalhadores quase sempre são Atlas, suportam sobre seus ombros todo o peso do mundo. Nós, os professores, os escritores, os artistas, os filósofos e todos que trabalhamos com paixão e ardor, além disso, podemos nos representar pelo mito de Sísifo.


Rei e fundador da cidade de Corinto, Sísifo, após sua morte, considerado culpado pelos deuses, foi condenado a eternamente empurrar pela encosta de alta montanha uma pesada pedra, que sempre cai antes de chegar ao cume. Ele desce a encosta e recomeça seu trabalho, sem mesmo um instante para descanso, dia após dia. Tentamos superar nossa condição, como este mito. Nosso heroísmo consiste em aceitar semelhante esforço. Cá estamos nós até hoje, empurrando nossa pedra.


Destinado à morte, o ser humano sonha com a imortalidade. E sentimos a felicidade que nasce da aceitação de nossa tarefa. Pela transcendência do fardo do trabalho, experimentamos o prazer do trabalho criativo. Trabalhar é nossa alegria profunda, é o sentimento de reencontro com a liberdade e com a certeza de que teremos de recomeçar, recomeçar...


Sísifo é o patrono dos operários do verbo, é o nosso patrono. Moldamos as palavras como ele leva a pedra para o alto da montanha.


Há uma poesia de Baudelaire que diz:




Para erguer peso tão pesado,


Sísifo, seria preciso tua coragem!


Embora se ponha o coração na obra,


A arte é longa e o tempo é curto.




4. A Bíblia também é constituída por mitos, são os mitos judaico-cristãos. E para acreditar na estorinha que diz que o homem vai dominar sobre as outras criaturas, só podemos fazê-lo, se confiarmos em nossa consciência que nos permite transcender.






sexta-feira, 4 de junho de 2010

Nº 15 A FILOSOFIA DO FUTEBOL

Iniciamos este artigo no dia 03 de junho de 2010, quando celebramos a festa de Corpus Christi que nos leva a refletir sobre a materialidade do ser, lembrando que o próprio Jesus, o Cristo, teve um corpo. Aliás, aindo o tem na hóstia com a alma, sangue e divindade e este corpo, transformado alquimicamente por sua incomparável evolução, subiu aos céus e permanece simultaneamente na Terra. Não se trata só de um feriadão para viajarmos, comermos, bebermos etc. É uma oportunidade para vivermos a mais bela e profunda emoção, a sensação de mistério.

Possuímos um artigo do Frei Beto, do qual não guardamos a referência jornalística e dele transcrevemos o seguinte:


Somos um corpo. Assim como a árvore brota da terra, o corpo humano emerge da evolução do Universo. Somos todos feitos de matéria estelar. Nosso corpo tem a idade aproximada de 15 bilhões de anos! Sua gestação teve início quando o calor da explosão inicial do Universo ofereceu a olhos nenhum, a primeira festa cósmica de São João.

O corpo contém o espírito assim como o espírito se consubstancia no corpo. A carne é tão espiritual quanto o espírito tão carnal, indivisíveis, dualidade sem dualismo, semente contida na árvore contida na semente que contém o tronco e galho, seiva, folha e flor, assim como, desde o seu início, o Universo nos continha e desde sempre, Deus nos enlaça em seu abraço amoroso.


Sim, somos um corpo que veio de uma célula criada há bilhões de anos. Esta célula enfrentando vicissitudes e evoluindo chegou ao "homo sapiens" que somos hoje.
Este homem que, muitas vezes , nos faz pensar que vai involuir nos mostrará com o corpo e a alma , neste mês da Copa do Mundo, suas inúmeras potencialidades. Não está tudo perdido, ainda podemos confiar no futuro da humanidade e do Planeta Terra. O futebol nos dá a chave da esperança.

O campo onde se disputa uma partida de futebol e todo o estádio, jogadores e torcedores formam um microcosmo com suas próprias leis. Abole-se o tempo, há um presente total, esquece-se o resto da sociedade, só existe o aqui. É um dos atrativos do jogo: seus participantes não se lembram da profissão, das doenças, da rotina, dos impostos etc.
Trata-se de um microcosmo dentro de um macrocosmo formado pela sociedade, que por sua vez pertence a outro macrocosmo formado pelo Planeta Terra, por todos os sistemas solares e toda a criação de Deus. O macrocosmo inteiro é inatingível para nós, em nosso atual estágio de evolução.

O futebol acende nos seus oficiantes todo um universo de dramaticidade. Dramático significa ação impulsionada para frente, tensão, problema. Analisemos os elementos que o formam:

trágico _ brigas, chutes, palavrões, pressão do tempo, enfrentar o adversário, evitar a morte simbólica;
cômico _ olé, uma bola que não passa: uns vão ao desespero outros batem palmas. A distensão é própria do cômico;
musical_ a melopéia, o som da torcida. Linda melopéia!
religioso_ culto aos ídolos, um ritual que se assiste, o campo é o altar, os jogadores são os celebrantes ou os deuses. Desenvolveremos um pouco este elemento no final do artigo.
pagão_ não tem religião oficial;
orgiástico _ prazer sensual, sexo em grupo: 20 machões perseguem avidamente o feminino simbolizado pelo oco da bola. Fora do estádio: desregramento, bebedeira, festejos;
idílico _ o amor à bola, o canto;
aventuresco_ improvisação, drible, astúcia;
catártico_ a vitória, os xingamentos, a torcida;
frustrante_ as derrotas, as bolas perdidas,
sedento_ desejo da vitória, de se exibir, de existir, de se identificar;
saciado_ o gol, a vitória sacia o desejo;
político_ a organização, a administração, atuação do técnico, do juiz, as injunções. Tirar um ídolo do campo é perder a chance de hipnotizar o povo e outras consequências. Desvio de dinheiro das federações tal qual acontece na política do país. Fortalece a identidade cultural. A FIFA hoje é mais importante que a ONU- congrega mais eficientemente um número grande de nações. Então na África é evidente. É interessante o exemplo da Argélia que conseguiu libertar-se da França , através do futebol. Os jogadores que estavam fora voltaram, reuniram-se , saíram fazendo propaganda pelo mundo. E venceram. O futebol é democrático - hoje o pobre joga com o rico e, se for bom, se enriquece, o negro joga com o branco, o semi-analfabeto com o instruído.
Neste universo há presenças radicais, lideres, pivôs bem definidos, que organizam a partida. Destes, em todos os tempos e lugares, o maior foi o brasileiro Pelé. Uma pena que tenha se tornado um garoto-propaganda... Para aumentar o sabor do presente texto filosófico, vamos recordar uma jogada sua, muito antiga, quando o Brasi jogava com a Argentina:
Pelé recebe a bola na corrida, entra na defesa driblando uma fila de adversários; o último pressentindo o perigo, aplica uma rasteira que alcança Pelé em pleno ar. Pelé se desequilibra, cai de costas, a bola foge de seu domínio, o juiz apita a falta. Mas eis que no instante do apito, Pelé consegue recobrar o equilíbrio, alcança novamente a bola e restabelece a excelente condição de gol que vai conseguir. A essa altura, porém, já o árbitro havia interrompido o jogo e todo o maravilhoso esforço de Pelé resultava inútil. Restou-lhe o consolo de ver o árbitro Juan Armental correr na sua direção e pedir-lhe desculpa por ter apitado. Mais tarde, o juiz explicava à imprensa que aquele fora o maior exemplo de agilidade pessoal jamais visto num campo de futebol nos seus vinte anos de arbitragem.
O imprevisto, a sorte, a espontaneidade aliados à disciplina e à técnica exercem um constante fascínio do povo em geral por esse esporte.
Um bom jogador de futebol nasce feito, isto é, seus dons são inatos ou ele aprende? Resposta: Tem que ter qualidades pessoais e aprender, aperfeiçoar-se.
Agora, vamos continuar a explicar nossas idéias sobre o religioso no futebol, o que desejamos realçar.
O gol é uma posse genital, um ato inaugural de vida, contrário à estagnação, à esterilidade. Chegar às redes é alcançar uma plenitude universal, é o religar-se a um elo perdido, como na religião. Esclarecendo, o feminino (a bola) simboliza a parte visível de nossa origem divina. Observemos, por exemplo, que, em francês, são homônimas as palavras "la mère", a mãe e "la mer", o mar. O líquido amniótico é o símbolo do mar, onde foi criada a primeira célula. O homem é um animal que simboliza, precisamos aprender a raciocinar e sentir dentro de uma simbólica. Tem, assim, o futebol, no momento do gol, o poder de provocar uma comunhão de muitas pessoas reunidas num prazer supremo, orgástico, numa gloriosa fecundação.
O adversário vence o estreito vão de passagem que o arqueiro guarda, este cai ou fica estatelado sem movimento. Fica como se estivesse morto. A morte é sempre começo de outra vida , não existe morte, o que há é um renascimento: a bola voltará ao meio do campo e o jogo recomeçará.
É o movimento cíclico da vida também fora do estádio: nascer, formar microcosmos, competir, decifrar o outro, ajuntar-se ao outro, vencer ou perder, RENASCER.
Estas considerações explicam, em parte, o ímpeto emocional que se experimenta numa partida de futebol.
Que o Brasil seja hexacampeão!!! Assim vamos aprendendo também os prefixos gregos...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Nº 14 No caminho da Luz, da Vida e do Amor



Continuamos combatendo a filosofia academicista e seguindo nosso método de considerar que "a felicidade é o principal objetivo da vida" e que as pessoas são felizes porque encontram e realizam o significado de sua própria existência. A felicidade não é um objeto a ser perseguido mas a consequência de uma vida com sentido.
Para não ficar só na abstração, vamos dar exemplos de alguns de nossos caminhos inspirados pelo triângulo da Luz, da Vida e do Amor.
Primeiro, fala Nando.

O FIO DE ARIADNE

Saindo das rotas rotineiras, dos rótulos, das restrições
ao fluxo da energia cósmica
o avião sobrevoou o bairro onde moro.

Céu azul de brigadeiro.
Meus caminhos e descaminhos viraram um cartão postal visto do alto. Eu tinha penetrado nos abismos daquele mar e voltado à superficialidae de suas praias muitas vezes.
Próximo da Pedra da Gávea, o avião se eleva, já me revelando a ascese que eu faria, distanciando-me dos desejos e apegos terrenos.
Na fuga ao Minotauro, seguindo o fio de Ariadne, encontrei a Morada do Silêncio na mata atlântica do Paraná. Fiquei emocionado ao me lembrar que eu iria habitar por alguns dias num recinto sagrado e que, junto com um grupo de amigos, poderia enviar vibrações de paz e prosperidade à imensa legião de miseráveis e aflitos que povoam a maior parte do mundo. Ao mesmo tempo, senti a minha responsabilidade de realizar uma obra assistencial aos mais infelizes.

Olho em volta. Tiro uns "flashes" poéticos.

O Sol brinca de colorir pedaços da paisagem:
placas de brilhante nas janelas do Santuário
areiazinhas lilases nas suas paredes
alvura incomparável no horizonte
matizes de verde na mata
bordada com flores de ouro
luzes nas gotas d'água da chuva
estrelinhas de prata saltitando
do Mar para a Serra.
No meio das estrelinhas, a presença
de um essênio de cabelos negros
e olhos de turquesa
a confirmar:
união do além com o aquém.

E vou caminhando, embriagado com as cores, os pefumes, a música...Topo com um insetinho,

em galanteios
vestido com uma capa de ágata
a metade verde vivo
a outra metade azul celeste.
Faz questão de me dizer bom-dia.
Bom-dia, amor. Você é uma belezinha!
Emissário do céu e da floresta.

Entro na Câmara da Paz
no altar, uma esperança.
Prenúncio de paz para todos os povos.
Saio para o Recanto da Luz.
Outra esperança. É demais!
Esperança, confiança nos avatares
da humanidade.

Leis imponderáveis do Universo.

Estudante do esoterismo como sou, lembro-me de um poema que escrevi.

REFLEXOS E REFLEXÕES

Você vê a maçã vermelha
o céu azul
o peixe nadando
o homem pensando
a criança sorrindo.

Você pensa que conhece o vermelho
o azul
o movimento
o pensamento
o sorriso.

Não se lembra que existe
uma só unidade primordial
refleletindo vermelhos, azuis, movimentos, pensamentos, sorrisos.
Maçãs, céus, peixes, homens, crianças
são partes, partículas majestosas de um todo, que se chama Deus.
Uma só origem de tudo que não está em lugar nenhum
e que está em toda parte
onde as palavras são sinfonias
e o quântico são nossos cânticos.

Não se lê o texto só no seu manifesto mas também no seu latente. Pensa-se a metafísica.
A realidade do homem não é o que é, é o que se pensa que é. É a realidade de um reflexo. O que há realmente é a energia divina que percebemos com nossos deficientes aparelhos sensoriais e, na maioria das vezes, numa percepção apressada, racional, egoística e cheia de preconceitos
Desprendidos do mundo utilitário, podemos sentir a magnitude do cosmos e unir-nos a nossos irmãos. Despojados de nossos velhos hábitos, a coisa-em-si resplandece diante de nós.
Não descartamos o aspecto sensorial, porque ele faz parte da relação física com o mundo, mas não podemos ignorar a emoção, a intuição, a espiritualidade.
Todos fazem parte de um mesmo "todo" e interagem o tempo inteiro.
Quando se toma contato com estes pricípios, fica-se atento às possibilidades que existem à nossa volta e as escolhas que oferecem. Se quisermos reverter a lógica da destruição, temos que adotar esta postura, fundamental para ampliar a espiritualidade e fazer com que se deixe de valorizar apenas o aspecto material da vida.

O minotauro não me devorou e achei o UNO.

Agora, Anna vai narrar sua VIAGEM DE CURA.

Passei por campos sorridentes e acolhedores. Penetrei na floresta e fui penetrando até encontrar o velho xamã na sua tenda de formato cônico, com uma porta triangular, um mastro central e nove varas muito bem amarradas para suster a estrutura, as paredes de barro, com muitos símbolos pintados e um buraco no topo para passar a fumaça. As cordas balançavam ao vento como bandeiras da Vitória. Senti naquela tenda, presa diretamente na Mãe Terra, as coisas familiares que alimentam meu sentido de Ser. A energia da Roda da Vida circulava em espiral. O xamã me fez repetir a frase: Om Namah Shivaya que significa: "Eu honro a divindade que existe em mim". Suas palavras fizeram meu corpo todo se arrepiar e também a pele de meu rosto. Depois me disse que tinha três presentes para mim.
Abri a primeira caixa. Continha uma boneca. Maravilhosa boneca loura com chapéu de seda enfeitado de rendas e vestido também de seda com casinhas de abelhas, ambos azuis. O presente tocou meu coração e ri às gargalhadas.
A seguir, Vovô Ketut, o xamã, me mandou pegar o outro presente. Era uma reluzente bola vermelha. No momento que a toquei, pulou para longe de minha mão e desceu quicando pelo declive. Corri atrás gargalhando até alcançá-la. Nisto passou o amigo gambá e o amigo macaquinho. Dançamos juntos e jogamos bola. Muito alegres, já não prestávamos mais atenção a nada, quando a bola entrou na tenda, bateu numa cesta e verifiquei pelo barulho que um vidro tinha-se quebrado.
Vovô disse que dentro da cesta estava meu terceiro presente. Abri o embrulho e lá estava um espelho em pedacinhos. Cada pedaço refletia minha imagem inteira. Compreendi que existem muitas facetas de minha personalidade que exibo para os outros, correspondem àquilo que desejo que os outros vejam. A forma de recuperar minha verdadeira imagem tem de começar na figura da menina brincando de bola e boneca, brinquedos que a vida aos poucos foi incendiando.
Deitei na grama e sonhei com bolas, bonecas, pianos, ioiôs coloridos, barcos de papel e um automovelzinho com buzina, no qual entrei para passear na calçada. A rua estava ladeada de amoreiras carregadas de frutinhas de rubi e com bichos-da- seda nutrindo-se das folhagens. Doçura e encantamento, um feliz regresso a minha infância.
Acordei, eu tinha que voltar. Beijei a mão do velho sábio e fiz a viagem de retorno, com a minha criança interior ressuscitada.
Tomei o bicho-da-seda como totem: uma lagarta tecedeira e que se transforma em borboleta há de me dar força e saúde.










domingo, 11 de abril de 2010

N° 13 De Judas Iscariotes

Não somos aqueles autores donos absolutos de certezas irremovíveis e da claridade diurna.
Na última Semana Santa, estudamos e discutimos sobre a Paixão e Morte de Jesus, o Cristo e Anna, numa visão heterodoxa, elaborou o seguinte poema.

De Judas Iscariotes

_ Vem, Judas, venceremos todos os romanos
te darei uma coroa de brilhantes
governarás um reino poderoso e vasto
serás o príncipe de minha corte
o general invencível de meus exércitos.

_ Segui seus passos com boa vontade.
Nunca a promessa se cumpriu.
Jesus era um tocador de flauta.
Sua música impressionava meus ouvidos
e os outros ouvidos de toda a terra
onde os homens são eternamente jovens
e os dias só têm alvoradas.
As cordas de minha lira, diante dele, emudeciam.
Ele encatava e distraía multidões.
Fitava a lua e as estrelas.
Deitava na relva e conversava com as folhas.
Jesus era um 'boêmio".

E os romanos?
Continuavam com suas vestes de púrpura
embora não fiassem, não trabalhassem no tear
colhiam e amontoavam riquezas
embora não arassem nem semeassem
os soldados da legião devastavam nossos vinhedos
Jesus não os punia
embora fossem nossos inimigos.

Jesus chegou mesmo a dizer:
Dá a César o que é de César.
Se punires no corpo o homicida, o ladrão e a prostituta
teu próprio espírito escurecerá.

Deu vista aos cegos
fez andar os paralíticos
exorcizou demônios dos loucos.
Mas não curou a cegueira dos maus pensamentos.
Não curou os membros paralíticos dos ociosos.
Não curou a possessão dos exploradores do povo.

Deu vida aos mortos.
Isto é um milagre.
Mas este milagre se realiza em todos os verões
quando os galhos do flamboyant brotam
depois da sonolência do inverno.
A terra e os homens fazem milagres todos os dias.

Por isso aqui estou nesta sexta-feira.
Entreguei Jesus deNazaré aos seus inimigos
aos meus inimigos.
Cometi um crime e um pecado muito grave.
Ele que não viveu como um rei, morreu como um rei.

A História dirá Judas Iscariotes era ambicioso
por isso entregou Jesus de Nazaré a seus inimigos.
Traiu para ganhar dinheiro.
A História fará uma injustiça.
Eu considerava o Galileu um inimigo de minha raça,
um homem que me iludiu, não cumpriu sua promessa

Por que, Jesus, alimentavas tanta paixão por uma terra desconhecida?
Por que logo eu que ouvi a melodia de tuas canções
que vi a coluna de luz de tua força,
por que logo eu fiquei preso nos laços do parentesco e da pátria?
Por que fiquei procurando o reino deste mundo,
se eu era teu seguidor e teu reino é o do coração?

Meu coração está mais seco que o desrto
meu guardião é um cão bravo de três cabeças
minha vida é um cálice de amargura
minha videira, uma aranha
minha cama, um ninho de tempestades.

E eu te vejo, Jesus,
em todas as montanhas
em todas as ilhas
em todos os sorrisos
em todos os mares.
E vou me encontrar contigo HOJE
jogarei fora estas mãos sujas de sangue
como se fossem uma roupa velha ou uma comida estragada.

As vilas ruminarão os vômitos de anátemas
que entopem minha goelas
As larvas esperam os tremores de minha carne
os campos receberão meu esqueleto.
Sou o bode expiatório.

A humanidade fingirá não ter remorsos
E dirá que só Judas Iscariotes foi o traidor.

Perdoa-me, Jesus.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

N° 12 Desamarrando Prometeu

Muitas de nossas leis, hoje em dia, estão baseadas em antigas prescrições de coisas proibidas, mas que não constituem em si mesmas qualquer espécie de Mal. O Mal sempre constitui um pecado, mas o "pecado" nem sempre é um Mal.
E o sofrimento enquanto ajuste por erros cometidos é compreendido e tolerado à luz da lei da causa e efeito, denominada carma, e contribui para o refinamento do indivíduo. Não negamos o valor dos reveses da vida.
Cabe-nos, porém, separar as informações autênticas das falsas, embora não seja fácil porque temos que adaptar-nos ao ambiente que nos cerca, se não quisermos ser descartados. Por isso é muito importante que cuidemos deste ambiente, da saúde e educação do povo, pois o 4° poder hoje é a Internet e as manifestações populares.
O conhecimento está para a luz assim como a ignorância está para as trevas. Muita gente vive nas trevas, todos que podem têm de ser educadores para levar a luz às pessoas que estão na escuridão.
Uma certa herança cultural nos induz a programar nosso infortúnio, isto é, crenças errôneas herdadas do passado nos fazem pensar que o destino nos conduz ao erro, à dor, à infelicidade. Pessoas carentes sofrendo horrores dizem querendo ser santas: _ "Foi Deus que quis". Elas aprenderam na religião que Deus é ciumento, vingativo e tirânico. E para salvar-nos tem de nós compaixão e nos dá um Deus Redentor que, se formos bonzinhos e pagarmos os dízimos, nos dará a felicidade e a salvação da alma. Muita gente luta e se sacrifica, sem necessidade, para herdar um pedacinho do Paraíso...
Entretanto Deus não é bom nem mau, Deus é. O conceito de Bem e Mal só existe no homem e para o homem. Este colhe exatamente o que semeia.
Não é só na religião que nos ensinam que nosso destino é ser infeliz. Também o fazem na Escola, na Família, na Filosofia, na Literatura etc.
Assim, aprendemos a rimar amor, que deveria ser a base de nossa felicidade, com dor.
Até mesmo Platão introduz Diotima, uma sacerdotisa, em sua discussão sobre o amor para explicar sua origem híbrida, filho de Recurso e de Pobreza, que se uniram no aniversário de Afrodite e o conceberam. O amor seria uma procura do Belo mas ao mesmo tempo encerraria uma contradição. Isto segundo Platão no interminável multílogo que se intitulou Banquete!
Aliás, Eros é um sujeito brincalhão. Diz o incomparável Yung que em qualquer legislação, por mais adiantada que seja, os problemas eróticos não serão resolvidos.
Na Literatura Brasileira entre muitos outros exemplos temos o de Iracema. José de Alencar para metaforizar a miscigenação da índia com o branco, a exploração e quase extinção da raça indígena, cria um romance rimando amor com dor e deste modo atraiu inúmeros leitores.
Na Literatura Universal, os exemplos de angústia e sofrimento são incontáveis. Na França, temos o belíssimo romance de André Gide, A sinfonia pastoral, La symphonie pastorale da Gallimard, 1925. Por ser menos conhecido aqui no Brasil, falaremos mais demoradamente sobre ele. Um pastor em suas andanças, a fim de cumprir os deveres religiosos, foi chamado para dar assistência a uma velha moribunda, numa casa pobre duma região da França, perdida num ermo. A velha se extinguira sem sofrimento, foi o que informou uma vizinha na chegada do pastor. Apesar de nada revelar em absoluto que num recanto qualquer daquela miserável moradia pudesse se esconder o menor tesouro, ele perguntou se havia algum herdeiro. A vizinha iluminou um canto da lareira com uma vela e lá o pastor pôde ver imperfeitamente uma criatura acocorada, inerte, que parecia dormir; uma parte da cabeleira espessa ocultava quase completamente seu rosto. Poucas eram as informações que a vizinha podia prestar: tratava-se de uma cega com aproximadamente 15 anos, sobrinha da defunta, uma idiota que era preciso internar num hospício. Não falava e nada compreendia do que se dizia. Em toda aquela manhã não tinha sequer se mexido. Não era surda, simplesmente sua velha tia é que era surda e não lhe dirigia nunca a palavra. O pastor achou-se na obrigação de ajudar a menina. Subtraída do concívio social, ela não era mais uma pessoa. A prova está nas próprias expressões do pastor: a cega deixou-se levar como uma massa informe, os traços de seu rosto eram suficientemente belos, mas de todo inexpressivos, levava enrolado aquele embrulho de carne que parecia não ter alma, seus gritos não tinham nada de humano e sim eram como latidos queixosos dum cãozinho. Entretanto, aquela carne estava quente e vivia, no corpo opaco habitava uma alma. Não se sabia se a menina dormia ou estava acordada. Em casa, o pastor com sua esposa, Amélia, dispensou todos os cuidados higiênicos, religiosos e educacionais à doente que passou a se chamar Gertrude. O médico confirmou a cegueira de Gertrude e prescreveu exercícios para despertar-lhe os outros sentidos. O primeiro sinal de progresso foi demorado e custou muito esforço ao casal: um sorriso que parecia mais uma transfiguração, mais uma prova de amor que de inteligência. Os outros resultados foram rápidos. Gertrude começa a escutar o canto dos pássaros, fala, aprende música, sobrevive; a família era a sociedade de que ela precisava. Conhece os benefícios do convívio social. E também suas penas. O pastor se apaixona por ela. Amélia tem ciúme. Além deste, outro triângulo amoroso se forma: Jacques, o filho do pastor, que era solteiro e jovem se apaixona por Gertrude. O pastor não resiste ao ciúme e impede o namoro. Os olhos da moça são operáveis e a operação tem êxito. Gertrude pode ver o mundo e conhecer os homens. Verifica que ela ama Jacuqes e não o pastor. Jacques se converte ao catolicismo, por causa do mau exemplo do pai, e vai ser padre. Gertrude se suicida ao voltar da clínica para a casa da família adotiva. Seria bom ler Gide para não perder a fruição artística da obra.
Nos dia de hoje, continuam os mesmos procedimentos. Citamos as conhecidíssimas novelas da televisão. Os heróis e as heroínas padecem num vale de lágrimas por muito tempo, embora, quase sempre alcancem um "happy end".
Liguem o rádio e ouçam as canções de consumo, particularmente em AM, que atingem as classes mais baixas da sociedade, a maioria das letras gira em torno de amores infelizes, ruas de amarguras, conformadas tristezas, sofrimentos inúteis.
Os modernos meios de comunicação não cansam de reproduzir os arquétipos do pensamento injetados na mente humana através da própria História da Cultura. Tudo se passa como se os sacrifícios de antigos rituais de povos primitivos estivessem presentes, bem guardados na memória, e tivessem cedido lugar, no mundo contemporâneo, a formas simbólicas de auto-imolação. O homem civilizado dispensou o ritual de sangue sobre o altar dos sacrifícios, mas a idéia permanece gravada em sua mente e manifesta-se de diversas formas simbólicas.
Na verdade, o que precisamos de entender é que pecado é uma ação ou estado de desarmonia com as leis cósmicas. E também a omissão , deixar de fazer o que constitui o Bem. Pecamos todas as vezes que estamos vivendo em trevas, moralmente, eticamente ou cosmicamente.
Muita dor seria eitada, se houvesse uma compreensão maior acerca da origem e evolução dos pecados hoje embutidos nos códigos de diferentes culturas, inclusive de religiões as quais não fazem uma revisão de suas injunções.
Um caminho a seguir é praticar o moderno epicurismo.
Na mitologia grega, Prometeu roubou o fogo do conhecimento aos deuses para dá-lo aos homens e atraiu para si a ira de Zeus, condenando-o a ser acorrentado a um monte, onde todos os dias as aves de rapina vinham bicar seu fígado. No alvorecer da Era de Aquário, temos a esperança de reinventar este mito e desamarrar Prometeu, para atingir a plenitude do conhecimento e do saber, proporcionando-nos a felicidade. Conquista esta que se resume em eliminar a carência e a ignorância, e obter a experiência da Luz, da Vida e do Amor, magnífico triângulo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

N° 11: O Bem e o Mal _ continuação

No blog n° 8, fizemos referência à autotranscendência que nos leva à evolução e à criatividade e que é muito importante na vida do homem.
Forneremos agora uma simplificada definição de transcendência, assunto que ocupa muitas e muitas páginas dos compêndios de Filosofia. Para chegar lá, é preciso entender aqui.
Transcendência é a qualidade do que não se esgota em si-mesmo. E a qualidade do que se esgota em si-mesmo é a imanência. Deus é o ser imanente por excelência, porque contém todos os outros seres.Tudo, menos o Mal, está em Deus, ele não pode transcender. Mas, para aproximar-nos de Deus, temos que transcender. O Mal é a ausência do Bem, já o estudamos, propriamente o Mal não existe, é uma invenção da mente humana. A ignorância (inscitia) e o medo da Morte (sentimento patológico da finitude) é que estão na origem do Mal.
Façamos uma reflexão e, ao mesmo tempo, uma avaliação de nossa posição, diante dos pricípios filosóficos sobre o Bem e o Mal.
Acreditamos que há um regente do Universo, Deus. que planeja sempre para o Bem e que planejou nosso destino. Destino este que está inscrito em nosso inconsciente individual e coletivo. Nossa felicidade depende das escolhas (é o livre arbítrio) que fazemos, orientados pelo inconsciente. Deus nos dá a tela com os desenhos traçados, nos dá a linha e as agulhas. Somos livres para bordar nosso tapete, podemos criar nele um céu ou um inferno e iremsos viver num ou noutro, conforme foi nossa escolha. Muito ainda temos que aprender a escolher e a realizar.
O problema do Bem e do Mal é arbitrário, porque, conforme a raça, cultura, política, crenças e grau de evolução, cada indivíduo tem dele uma compreensão diferente. Mas existem normas gerais que permitem estabelecer uma distinção entre comportamentos fundamentalmente bons e fundamentalmente maus. Como aplicação deste princípio, indiquem as ações, reações, atitudes, pontos de vista, idéias, crenças etc que acharem que pertençam ao Mal, opondo-se ao Bem. Usem apenas uma palavra em cada linha e não empreguem termos cognatoos, isto é, não escrevam, por exemplo, desunião para opor-se à união, uma das opções poderia ser separação. Este exercício nos obrigará a meditar num assunto muito importante para convivermos com os outros e para progredirmos espiritualmente.
BEM MAL
Prazer------------------------------------------------------------------------------
Criar -------------------------------------------------------------------------------
Amar -------------------------------------------------------------------------------
Verdade ----------------------------------------------------------------------------
Anjo ---------------------------------------------------------------------------------
Útil ---------------------------------------------------------------------------------
Justiça ------------------------------------------------------------------------------
Tranquilidade -----------------------------------------------------------------------
Decisão ------------------------------------------------------------------------------
Felicidade ----------------------------------------------------------------------------
União --------------------------------------------------------------------------------
Luz -----------------------------------------------------------------------------------
Paz ------------------------------------------------------------------------------------
Ordem --------------------------------------------------------------------------------
Há uma diferença muito sutil entre o Bem e o Mal. Todas as respostas são discutíveis. Vejamos: a ordem pode ser uma clareza desejável ou o fanatismo pela organização, um limitado raciocínio metódico. A decisão pode ser a possibilidade de um desenvolvimento da vontade ou uma necessidade intolerável. O antônimo de amar nem sempre é odiar, muitas vezes é o indiferentismo. Verdade versus mentira pode gerar uma dúvida. _ Na Arte, a mentira, isto é, a ficção, é positiva, é um caminho para se alcançar uma realidade mais abrangente. Filosofar é isto, aprendamos a filosofar.
O fato de nada dizermos ou fazermos em certas circunstãncias às vezes contraria o Bem e nem sempre constitui uma prova de sabedoria. Neste sentido, a passividade, o silêncio não devem servir de pretexto. Aceitar o Mal por omissão é tão culposo quanto praticá-lo.
Lembremo-nos que a maior das liberdades é aquela que permite a todo ser humano aplicar plenamente seu livre arbítrio no respeito às leis humanas e cósmicas.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nº 10 O Bem e o Mal

Um professor ateu dasafiou seus alunos:
_ Deus fez tudo que existe?
Um estudante corajosamente respondeu:
_ Sim, fez.
O professor replicou:
_Se Deus fez todas as coisas, então fez o Mal, pois o Mal existe e, considerando-se que nossas ações são o reflexo de nós mesmos, Deus é mau.
O estudante calou-se diante de tal resposta e o professor feliz se vangloriava de haver provado uma vez mais que a fé era falsa. Outro estudante levantou a mão e disse:
_ Posso lhe fazer uma pergunta, professor? "Sem dúvida" , respondeu-lhe o professor.
O jovem ficou de pé e perguntou:
_ Professor, o frio existe?
_ Mas que pergunta é essa? Claro que existe. Você por acaso nunca sentiu frio?
O rapaz ponderou:
Na verdade, professor, o frio não existe. Segundo as leis da Física o que consideramos frio é a ausência de calor. Todo corpo ou objeto pode ser estudado quando transmite energia, mas é o calor e não o frio que faz que tal corpo tenha ou transmita energia. Criamos esse termo para descrever como nos sentimos quando nos falta o calor. E a escuridão existe? continuou o estudante.
_ É óbvio que sim, respondeu o professor.
_ Novamente o senhor se engana. A escuridão também não existe. A escuridão é, na verdade, a ausência de luz. Podemos estudar a luz, mas a escuridão, não. Um simples raio de luz rasga as trevas e ilumina a superfície que a luz toca. Escuridão é o nome que o homem criou para descrever o que acontece quando não há luz presente.
Finalmente, o jovem estudante perguntou ao professor:
_ Diga, professor o Mal existe?
_ Claro que existe. Estamos sempre vendo roubos, homicídios, violência, injustiça... em todas as partes do mundo, essas coisas são o Mal.
Então o estudante concluiu:
_ O Mal não esxiste, professor. ou ao menos não existe por si só. O Mal é a ausência de Deus. È, como nos casos anteriores, um termo que o homem criou para descrever essa ausência de Deus. Deus não criou o Mal. Não é como a fé ou o amor que existem ou como a luz e o calor que existem. O Mal resulta de que a humanidade não tenha Deus presente em seus corações. É como o frio que surge quando não há calor ou a escuridão que acontece quando não há luz
Toda teoria é o embrião de uma história. Aí está um exemplo que a história narrada é um embrião da teoria de que "o Mal não existe por si só, é a ausência do Bem." Vamos desenvolver um pouco a teoria.
Em toda sua existência, o homem se defronta com o problema do Bem e do Mal. Como ele não domina esse problema, comete erros de julgamento e de comportamento, tanto em relação a ele próprio como a outros.
A evolução de nossa personalidade-alma depende da maneira como aplicamos o livre-arbítrio na vida diária pois são nossas escolhas que determinam nosso progresso na senda que nos leva à Iluminação de nossa consciência a animica.
Para determinar essas escolhas é preciso nos aprofundarmos no problema do Bem e do Mal.
Na maioria dos escritos filosóficos, o Mal é definido como o "Não-Ser" ou "ausência do Bem", pois ele não existe no absoluto. Em outras palavras, ele não é a expressão de uma lei cósmica e não corresponde a qualquer realidade espiritual. De acordo com Platão, o Mal "é a negação do que existe e não tem existência virtual". Esse pricípio mostra que o Mal é apenas a contraparte negativa de uma condição positiva que não está manifesta num determinado0 momento. Por analogia, a obscuridade, em qualquer lugar, só se apresenta quando falta a luz. Eliminemos as trevas da ignorância e da miséria com a nossa luz.
O que o homem denomina Mal tem sua origem na imperfeição de sua personalidade-alma e de seu caráter, ou seja, na sua incapacidade de agir de acordo com sua natureza divina. Por consequência, o orgulho é a ausência de humildade, o egoísmo a ausência de generosidade, a hipocrisia a ausência de sinceridade, a intolerância a ausência de tolerância, a coverdia a ausência de coragem etc. É exatamente por essa razão que é impossível vencermos nossos defeitos tentando combatê-los, pois esse combate lhes atribui um poder que eles não têm e fortalece a influência negativa que eles exercem sobre nós. Na realidade, o único meio de neutralizá-los definitivamente é substituí-los aos poucos por suas qualidades opostas. Repetimos: a melhor maneira de combater as trevas é jogar-lhes luz por cima. E o melhor antídoto contra o frio é o calor da fé e do amor.
Se é verdade que o Mal não é a expressão de uma lei cósmica e não corresponde a nenhuma realidade espiritual, não podemos negar sua existência terrestre. Do ponto de vists de sua objetividade, contetarmo-nos em afirmar que ele é a ausência do Bem é inútil e pouco realista, pois essa afirmação não nos permite neutralizá-lo nem nos defendermos dele. As guerras e os crimes são manifestações de seu poder e fazem numerosas vítimas. A corrupção, a desonestidade, o abuso do poder etc. testemunham a efetiva nocividade de certos indivíduos. Contudo, devemos compreender que o Mal nunca é consequência de um decreto divino. Seja qual for sua forma, ele resulta sempre de uma aplicação negativa do livre-arbítrio do homem, tanto no plano individual quanto coletivo. Isto significa que sua fonte está na consciência humana e não na consciência cósmica. Assim Deus não pode ser reponsabilizado pelos efeitos produzidos pelos erros que cometemos. Aliás, não cabe a ele neutralizar seus efeitos, pois se assim fizesse anularia nosso livre-arbítrio e iria contra nossa própria evolução, que é baseada na necessidade de assumirmos as consequências de nossos atos.
Aproveitamos a oportunidade para lembrar que a morte não é um Mal, não é a interrupção da vida, não é seu antônimo. É a radical mudança no modo de viver. Voltaremos a este assumto em outro blog.
Continuaremos dentro da temática do Bem e do Mal no próximo blog.
Neste ano de 2010, atingimos o número 10 de nosso jornalzinho. Vamos festejá-lo com vinhos e queijos. Passamos do átrio da Filosofia para a primeira câmara do templo do Saber.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Nº 9 Mensagem "sui-generis" de Natal



Tentamos publicar este jornalzinho antes do Natal próximo passado, por motivos técnicos, não conseguimos. Pedimos desculpas pelo atraso.

Citamos no blog nº 4 a necessidade de encontrarmos o significado de nossa própria existência e indicamos a obra de Viktor Frankl, que consideramos importante para inspirar-nos no exercício de nossa filosofia epicurista moderna. No momento, é oportuno consultar seu livro Em busca de sentido da Editora Sinodal e Vozes. Aí queremos realçar o capítulo "Arte no campo de concentração", p. 46 e 48. Prisioneiros da 2ª grande guerra no campo de concentração alemão conseguem compensar o desespero por sua morte lenta, num rápido intervalo, apresentando um teatro improvisado, um canto, um poema ou a música de um violino. Imaginem num pano de fundo tão tenebroso a beleza comovente daqueles acordes harmonizantes de poucos minutos!

Felizmente, numa situação muitíssimo melhor, podemos hoje valorizar a arte para enriquecer nossa mensagem ao Menino Jesus, o Divino Salvador, o aniversariante de 25 de dezmbro, ofuscado por Papai Noel,carregado de mercadorias e tão endeusado. Mercadorias que quase sempre introjetam falsas necessidades na sociedade.

A poesia nos coloca pertinho de Deus, por isso vamos apresentar alguns poemas.


Sou Garimpeira(com a palavra Anna)


Escrevo, escevo, escrevo
compulsivamente.
Garimpo as pedra preciosas
que botaram dentro de mim.
Elas vêm com o barro da terra.

Eu as seleciono, preparo, guardo
e publico.

Eu, a poeta-garimpeira, não sei
agradar o público que gosta de bijuterias.

Mas não posso parar.
Minha bateia vive cheia.
Ouvindo a música de Marcos Ariel, Dança das Marcelinhas, compusemos o seguinte poema:
Vida
Marcelinha amarela,
hoje me vesti de amarelo
para dançar com você,
para amar você.
Sou Adarovla, a alvorada.
Olhe o vento no meu nome.
Olhe a sinfonia da cachoeira.
Olhe os trigais maduros,
povoados de gnomos etéreos.
Marcelinha do meu coração,
seus olores louros
entram nas minhas narinas.
Vou beijar seu pólen,
minha luz vai engravidar você
de verdades e venturas,
nesses tempos sem verdades.
Nascem outras marcelinhas.
criancinhas douradas
que vão continuar o bailado
da vida.
Uma oportuna reflexão:
Filosofia da Informática
"Os mortais acreditam ser máquinas físicas que aprenderam a pensar, Na verdade eles são pensamentos que qprenderam a criar uma máquina física."
CHOPRA, Deepak. O caminho do mago.
Deus é o computador maior.
Imune a todos os vírus,
sabe tudo e cobra tudo,
tem a memória de todas as memórias,
está aqui e ali,
é o outrora, o hoje e o porvir.
Velocidade tão grande
que está em todos os tempos e lugares
no atemporal e no anespacial.
Mas o computador-máquina não é um Deus menor.
Deus está tanto no grande como no pequeno.
Tanto o pequeno como o grande estão em Deus.
O computador-máquina não é um Deus,
é uma forma de energia que flui.
Nem sempre construtiva.
Tudo é imitação da obra divina.
O homem tembém é um micro
onde cabe um macro.
Cuidado com o vírus!
Somos em Deus, estamos em Deus,
estamos no ser cósmico.
Este poema que acabamos de transcrever nos levam ao questionamento sobre o Bem e o Mal e é um início para o estudo sobre a meditação mística que serão temas de outros blogs.
Agora, dois poemas e uma pequena crônica mais especificamente sobre o Natal.
Natal
Quando sinos repicarem
Quando taças se erguerem
Quando mãos se apertarem
Vamos pensar que ainda é possível
A paz entre os homens
Porque Jesua nasceu a semear o amor
As estrelas caem em chuva
Sobre o abrigo improvisado
Todas as forças da Terra
Do Leste e do Oeste, unidas
A todas as forças do Céu
Se irmanam
Recomeçamos a viver no influxo
De uma nova gnose que nos leva
Ao Vinho
Ao Trigo
À Alquimia
O Natal é mais que a mesa posta
Que os cacos coloridos dos shops
Que o perambular coisamente
Pelos supermercados
Queremos do Natal
Uma luz interna
Brilhando como jóia rara
a destruir a inércia
Queremos um amor que seja ação
Natal
Luzes efêmeras, fugazes, faiscantes
presentes frívolos, fúteis
alegrias fantasiosas, camuflantes.
Sopro que passa.
Num só dia? Não é Natal.
Ah! a paz, a paz!
Paz na Terra
Onde estão os homens de boa vontade?
Natal é a presença da luz do Leste
de onde veio Jesus.
Natal
Se você quiser, é Natal todos os dias em sua casa. Se você amparar: o índio e o negro com sua história de sofrimento, a mulher desvalida, a criança abandonada, todos os despossuídos de emprego, de renda, de educação, de saúde, de cidadania. De carinho!
Aí você estará abrigando o Menino de Belém.
E, para finalizar, oferecemos os dizeres de uma carta do "tarô do amor", fugindo dos estereótipos:
Tente se livrar dos conceitos preestabelecidos para "amor" e procure uma concepção pessoal. Procure manifestações de amor em outros níveis da natureza, como nos reinos vegetal, animal e mineral. Escreva sobre o assunto e divulgue.