domingo, 28 de fevereiro de 2010

N° 12 Desamarrando Prometeu

Muitas de nossas leis, hoje em dia, estão baseadas em antigas prescrições de coisas proibidas, mas que não constituem em si mesmas qualquer espécie de Mal. O Mal sempre constitui um pecado, mas o "pecado" nem sempre é um Mal.
E o sofrimento enquanto ajuste por erros cometidos é compreendido e tolerado à luz da lei da causa e efeito, denominada carma, e contribui para o refinamento do indivíduo. Não negamos o valor dos reveses da vida.
Cabe-nos, porém, separar as informações autênticas das falsas, embora não seja fácil porque temos que adaptar-nos ao ambiente que nos cerca, se não quisermos ser descartados. Por isso é muito importante que cuidemos deste ambiente, da saúde e educação do povo, pois o 4° poder hoje é a Internet e as manifestações populares.
O conhecimento está para a luz assim como a ignorância está para as trevas. Muita gente vive nas trevas, todos que podem têm de ser educadores para levar a luz às pessoas que estão na escuridão.
Uma certa herança cultural nos induz a programar nosso infortúnio, isto é, crenças errôneas herdadas do passado nos fazem pensar que o destino nos conduz ao erro, à dor, à infelicidade. Pessoas carentes sofrendo horrores dizem querendo ser santas: _ "Foi Deus que quis". Elas aprenderam na religião que Deus é ciumento, vingativo e tirânico. E para salvar-nos tem de nós compaixão e nos dá um Deus Redentor que, se formos bonzinhos e pagarmos os dízimos, nos dará a felicidade e a salvação da alma. Muita gente luta e se sacrifica, sem necessidade, para herdar um pedacinho do Paraíso...
Entretanto Deus não é bom nem mau, Deus é. O conceito de Bem e Mal só existe no homem e para o homem. Este colhe exatamente o que semeia.
Não é só na religião que nos ensinam que nosso destino é ser infeliz. Também o fazem na Escola, na Família, na Filosofia, na Literatura etc.
Assim, aprendemos a rimar amor, que deveria ser a base de nossa felicidade, com dor.
Até mesmo Platão introduz Diotima, uma sacerdotisa, em sua discussão sobre o amor para explicar sua origem híbrida, filho de Recurso e de Pobreza, que se uniram no aniversário de Afrodite e o conceberam. O amor seria uma procura do Belo mas ao mesmo tempo encerraria uma contradição. Isto segundo Platão no interminável multílogo que se intitulou Banquete!
Aliás, Eros é um sujeito brincalhão. Diz o incomparável Yung que em qualquer legislação, por mais adiantada que seja, os problemas eróticos não serão resolvidos.
Na Literatura Brasileira entre muitos outros exemplos temos o de Iracema. José de Alencar para metaforizar a miscigenação da índia com o branco, a exploração e quase extinção da raça indígena, cria um romance rimando amor com dor e deste modo atraiu inúmeros leitores.
Na Literatura Universal, os exemplos de angústia e sofrimento são incontáveis. Na França, temos o belíssimo romance de André Gide, A sinfonia pastoral, La symphonie pastorale da Gallimard, 1925. Por ser menos conhecido aqui no Brasil, falaremos mais demoradamente sobre ele. Um pastor em suas andanças, a fim de cumprir os deveres religiosos, foi chamado para dar assistência a uma velha moribunda, numa casa pobre duma região da França, perdida num ermo. A velha se extinguira sem sofrimento, foi o que informou uma vizinha na chegada do pastor. Apesar de nada revelar em absoluto que num recanto qualquer daquela miserável moradia pudesse se esconder o menor tesouro, ele perguntou se havia algum herdeiro. A vizinha iluminou um canto da lareira com uma vela e lá o pastor pôde ver imperfeitamente uma criatura acocorada, inerte, que parecia dormir; uma parte da cabeleira espessa ocultava quase completamente seu rosto. Poucas eram as informações que a vizinha podia prestar: tratava-se de uma cega com aproximadamente 15 anos, sobrinha da defunta, uma idiota que era preciso internar num hospício. Não falava e nada compreendia do que se dizia. Em toda aquela manhã não tinha sequer se mexido. Não era surda, simplesmente sua velha tia é que era surda e não lhe dirigia nunca a palavra. O pastor achou-se na obrigação de ajudar a menina. Subtraída do concívio social, ela não era mais uma pessoa. A prova está nas próprias expressões do pastor: a cega deixou-se levar como uma massa informe, os traços de seu rosto eram suficientemente belos, mas de todo inexpressivos, levava enrolado aquele embrulho de carne que parecia não ter alma, seus gritos não tinham nada de humano e sim eram como latidos queixosos dum cãozinho. Entretanto, aquela carne estava quente e vivia, no corpo opaco habitava uma alma. Não se sabia se a menina dormia ou estava acordada. Em casa, o pastor com sua esposa, Amélia, dispensou todos os cuidados higiênicos, religiosos e educacionais à doente que passou a se chamar Gertrude. O médico confirmou a cegueira de Gertrude e prescreveu exercícios para despertar-lhe os outros sentidos. O primeiro sinal de progresso foi demorado e custou muito esforço ao casal: um sorriso que parecia mais uma transfiguração, mais uma prova de amor que de inteligência. Os outros resultados foram rápidos. Gertrude começa a escutar o canto dos pássaros, fala, aprende música, sobrevive; a família era a sociedade de que ela precisava. Conhece os benefícios do convívio social. E também suas penas. O pastor se apaixona por ela. Amélia tem ciúme. Além deste, outro triângulo amoroso se forma: Jacques, o filho do pastor, que era solteiro e jovem se apaixona por Gertrude. O pastor não resiste ao ciúme e impede o namoro. Os olhos da moça são operáveis e a operação tem êxito. Gertrude pode ver o mundo e conhecer os homens. Verifica que ela ama Jacuqes e não o pastor. Jacques se converte ao catolicismo, por causa do mau exemplo do pai, e vai ser padre. Gertrude se suicida ao voltar da clínica para a casa da família adotiva. Seria bom ler Gide para não perder a fruição artística da obra.
Nos dia de hoje, continuam os mesmos procedimentos. Citamos as conhecidíssimas novelas da televisão. Os heróis e as heroínas padecem num vale de lágrimas por muito tempo, embora, quase sempre alcancem um "happy end".
Liguem o rádio e ouçam as canções de consumo, particularmente em AM, que atingem as classes mais baixas da sociedade, a maioria das letras gira em torno de amores infelizes, ruas de amarguras, conformadas tristezas, sofrimentos inúteis.
Os modernos meios de comunicação não cansam de reproduzir os arquétipos do pensamento injetados na mente humana através da própria História da Cultura. Tudo se passa como se os sacrifícios de antigos rituais de povos primitivos estivessem presentes, bem guardados na memória, e tivessem cedido lugar, no mundo contemporâneo, a formas simbólicas de auto-imolação. O homem civilizado dispensou o ritual de sangue sobre o altar dos sacrifícios, mas a idéia permanece gravada em sua mente e manifesta-se de diversas formas simbólicas.
Na verdade, o que precisamos de entender é que pecado é uma ação ou estado de desarmonia com as leis cósmicas. E também a omissão , deixar de fazer o que constitui o Bem. Pecamos todas as vezes que estamos vivendo em trevas, moralmente, eticamente ou cosmicamente.
Muita dor seria eitada, se houvesse uma compreensão maior acerca da origem e evolução dos pecados hoje embutidos nos códigos de diferentes culturas, inclusive de religiões as quais não fazem uma revisão de suas injunções.
Um caminho a seguir é praticar o moderno epicurismo.
Na mitologia grega, Prometeu roubou o fogo do conhecimento aos deuses para dá-lo aos homens e atraiu para si a ira de Zeus, condenando-o a ser acorrentado a um monte, onde todos os dias as aves de rapina vinham bicar seu fígado. No alvorecer da Era de Aquário, temos a esperança de reinventar este mito e desamarrar Prometeu, para atingir a plenitude do conhecimento e do saber, proporcionando-nos a felicidade. Conquista esta que se resume em eliminar a carência e a ignorância, e obter a experiência da Luz, da Vida e do Amor, magnífico triângulo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

N° 11: O Bem e o Mal _ continuação

No blog n° 8, fizemos referência à autotranscendência que nos leva à evolução e à criatividade e que é muito importante na vida do homem.
Forneremos agora uma simplificada definição de transcendência, assunto que ocupa muitas e muitas páginas dos compêndios de Filosofia. Para chegar lá, é preciso entender aqui.
Transcendência é a qualidade do que não se esgota em si-mesmo. E a qualidade do que se esgota em si-mesmo é a imanência. Deus é o ser imanente por excelência, porque contém todos os outros seres.Tudo, menos o Mal, está em Deus, ele não pode transcender. Mas, para aproximar-nos de Deus, temos que transcender. O Mal é a ausência do Bem, já o estudamos, propriamente o Mal não existe, é uma invenção da mente humana. A ignorância (inscitia) e o medo da Morte (sentimento patológico da finitude) é que estão na origem do Mal.
Façamos uma reflexão e, ao mesmo tempo, uma avaliação de nossa posição, diante dos pricípios filosóficos sobre o Bem e o Mal.
Acreditamos que há um regente do Universo, Deus. que planeja sempre para o Bem e que planejou nosso destino. Destino este que está inscrito em nosso inconsciente individual e coletivo. Nossa felicidade depende das escolhas (é o livre arbítrio) que fazemos, orientados pelo inconsciente. Deus nos dá a tela com os desenhos traçados, nos dá a linha e as agulhas. Somos livres para bordar nosso tapete, podemos criar nele um céu ou um inferno e iremsos viver num ou noutro, conforme foi nossa escolha. Muito ainda temos que aprender a escolher e a realizar.
O problema do Bem e do Mal é arbitrário, porque, conforme a raça, cultura, política, crenças e grau de evolução, cada indivíduo tem dele uma compreensão diferente. Mas existem normas gerais que permitem estabelecer uma distinção entre comportamentos fundamentalmente bons e fundamentalmente maus. Como aplicação deste princípio, indiquem as ações, reações, atitudes, pontos de vista, idéias, crenças etc que acharem que pertençam ao Mal, opondo-se ao Bem. Usem apenas uma palavra em cada linha e não empreguem termos cognatoos, isto é, não escrevam, por exemplo, desunião para opor-se à união, uma das opções poderia ser separação. Este exercício nos obrigará a meditar num assunto muito importante para convivermos com os outros e para progredirmos espiritualmente.
BEM MAL
Prazer------------------------------------------------------------------------------
Criar -------------------------------------------------------------------------------
Amar -------------------------------------------------------------------------------
Verdade ----------------------------------------------------------------------------
Anjo ---------------------------------------------------------------------------------
Útil ---------------------------------------------------------------------------------
Justiça ------------------------------------------------------------------------------
Tranquilidade -----------------------------------------------------------------------
Decisão ------------------------------------------------------------------------------
Felicidade ----------------------------------------------------------------------------
União --------------------------------------------------------------------------------
Luz -----------------------------------------------------------------------------------
Paz ------------------------------------------------------------------------------------
Ordem --------------------------------------------------------------------------------
Há uma diferença muito sutil entre o Bem e o Mal. Todas as respostas são discutíveis. Vejamos: a ordem pode ser uma clareza desejável ou o fanatismo pela organização, um limitado raciocínio metódico. A decisão pode ser a possibilidade de um desenvolvimento da vontade ou uma necessidade intolerável. O antônimo de amar nem sempre é odiar, muitas vezes é o indiferentismo. Verdade versus mentira pode gerar uma dúvida. _ Na Arte, a mentira, isto é, a ficção, é positiva, é um caminho para se alcançar uma realidade mais abrangente. Filosofar é isto, aprendamos a filosofar.
O fato de nada dizermos ou fazermos em certas circunstãncias às vezes contraria o Bem e nem sempre constitui uma prova de sabedoria. Neste sentido, a passividade, o silêncio não devem servir de pretexto. Aceitar o Mal por omissão é tão culposo quanto praticá-lo.
Lembremo-nos que a maior das liberdades é aquela que permite a todo ser humano aplicar plenamente seu livre arbítrio no respeito às leis humanas e cósmicas.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Nº 10 O Bem e o Mal

Um professor ateu dasafiou seus alunos:
_ Deus fez tudo que existe?
Um estudante corajosamente respondeu:
_ Sim, fez.
O professor replicou:
_Se Deus fez todas as coisas, então fez o Mal, pois o Mal existe e, considerando-se que nossas ações são o reflexo de nós mesmos, Deus é mau.
O estudante calou-se diante de tal resposta e o professor feliz se vangloriava de haver provado uma vez mais que a fé era falsa. Outro estudante levantou a mão e disse:
_ Posso lhe fazer uma pergunta, professor? "Sem dúvida" , respondeu-lhe o professor.
O jovem ficou de pé e perguntou:
_ Professor, o frio existe?
_ Mas que pergunta é essa? Claro que existe. Você por acaso nunca sentiu frio?
O rapaz ponderou:
Na verdade, professor, o frio não existe. Segundo as leis da Física o que consideramos frio é a ausência de calor. Todo corpo ou objeto pode ser estudado quando transmite energia, mas é o calor e não o frio que faz que tal corpo tenha ou transmita energia. Criamos esse termo para descrever como nos sentimos quando nos falta o calor. E a escuridão existe? continuou o estudante.
_ É óbvio que sim, respondeu o professor.
_ Novamente o senhor se engana. A escuridão também não existe. A escuridão é, na verdade, a ausência de luz. Podemos estudar a luz, mas a escuridão, não. Um simples raio de luz rasga as trevas e ilumina a superfície que a luz toca. Escuridão é o nome que o homem criou para descrever o que acontece quando não há luz presente.
Finalmente, o jovem estudante perguntou ao professor:
_ Diga, professor o Mal existe?
_ Claro que existe. Estamos sempre vendo roubos, homicídios, violência, injustiça... em todas as partes do mundo, essas coisas são o Mal.
Então o estudante concluiu:
_ O Mal não esxiste, professor. ou ao menos não existe por si só. O Mal é a ausência de Deus. È, como nos casos anteriores, um termo que o homem criou para descrever essa ausência de Deus. Deus não criou o Mal. Não é como a fé ou o amor que existem ou como a luz e o calor que existem. O Mal resulta de que a humanidade não tenha Deus presente em seus corações. É como o frio que surge quando não há calor ou a escuridão que acontece quando não há luz
Toda teoria é o embrião de uma história. Aí está um exemplo que a história narrada é um embrião da teoria de que "o Mal não existe por si só, é a ausência do Bem." Vamos desenvolver um pouco a teoria.
Em toda sua existência, o homem se defronta com o problema do Bem e do Mal. Como ele não domina esse problema, comete erros de julgamento e de comportamento, tanto em relação a ele próprio como a outros.
A evolução de nossa personalidade-alma depende da maneira como aplicamos o livre-arbítrio na vida diária pois são nossas escolhas que determinam nosso progresso na senda que nos leva à Iluminação de nossa consciência a animica.
Para determinar essas escolhas é preciso nos aprofundarmos no problema do Bem e do Mal.
Na maioria dos escritos filosóficos, o Mal é definido como o "Não-Ser" ou "ausência do Bem", pois ele não existe no absoluto. Em outras palavras, ele não é a expressão de uma lei cósmica e não corresponde a qualquer realidade espiritual. De acordo com Platão, o Mal "é a negação do que existe e não tem existência virtual". Esse pricípio mostra que o Mal é apenas a contraparte negativa de uma condição positiva que não está manifesta num determinado0 momento. Por analogia, a obscuridade, em qualquer lugar, só se apresenta quando falta a luz. Eliminemos as trevas da ignorância e da miséria com a nossa luz.
O que o homem denomina Mal tem sua origem na imperfeição de sua personalidade-alma e de seu caráter, ou seja, na sua incapacidade de agir de acordo com sua natureza divina. Por consequência, o orgulho é a ausência de humildade, o egoísmo a ausência de generosidade, a hipocrisia a ausência de sinceridade, a intolerância a ausência de tolerância, a coverdia a ausência de coragem etc. É exatamente por essa razão que é impossível vencermos nossos defeitos tentando combatê-los, pois esse combate lhes atribui um poder que eles não têm e fortalece a influência negativa que eles exercem sobre nós. Na realidade, o único meio de neutralizá-los definitivamente é substituí-los aos poucos por suas qualidades opostas. Repetimos: a melhor maneira de combater as trevas é jogar-lhes luz por cima. E o melhor antídoto contra o frio é o calor da fé e do amor.
Se é verdade que o Mal não é a expressão de uma lei cósmica e não corresponde a nenhuma realidade espiritual, não podemos negar sua existência terrestre. Do ponto de vists de sua objetividade, contetarmo-nos em afirmar que ele é a ausência do Bem é inútil e pouco realista, pois essa afirmação não nos permite neutralizá-lo nem nos defendermos dele. As guerras e os crimes são manifestações de seu poder e fazem numerosas vítimas. A corrupção, a desonestidade, o abuso do poder etc. testemunham a efetiva nocividade de certos indivíduos. Contudo, devemos compreender que o Mal nunca é consequência de um decreto divino. Seja qual for sua forma, ele resulta sempre de uma aplicação negativa do livre-arbítrio do homem, tanto no plano individual quanto coletivo. Isto significa que sua fonte está na consciência humana e não na consciência cósmica. Assim Deus não pode ser reponsabilizado pelos efeitos produzidos pelos erros que cometemos. Aliás, não cabe a ele neutralizar seus efeitos, pois se assim fizesse anularia nosso livre-arbítrio e iria contra nossa própria evolução, que é baseada na necessidade de assumirmos as consequências de nossos atos.
Aproveitamos a oportunidade para lembrar que a morte não é um Mal, não é a interrupção da vida, não é seu antônimo. É a radical mudança no modo de viver. Voltaremos a este assumto em outro blog.
Continuaremos dentro da temática do Bem e do Mal no próximo blog.
Neste ano de 2010, atingimos o número 10 de nosso jornalzinho. Vamos festejá-lo com vinhos e queijos. Passamos do átrio da Filosofia para a primeira câmara do templo do Saber.