sexta-feira, 4 de junho de 2010

Nº 15 A FILOSOFIA DO FUTEBOL

Iniciamos este artigo no dia 03 de junho de 2010, quando celebramos a festa de Corpus Christi que nos leva a refletir sobre a materialidade do ser, lembrando que o próprio Jesus, o Cristo, teve um corpo. Aliás, aindo o tem na hóstia com a alma, sangue e divindade e este corpo, transformado alquimicamente por sua incomparável evolução, subiu aos céus e permanece simultaneamente na Terra. Não se trata só de um feriadão para viajarmos, comermos, bebermos etc. É uma oportunidade para vivermos a mais bela e profunda emoção, a sensação de mistério.

Possuímos um artigo do Frei Beto, do qual não guardamos a referência jornalística e dele transcrevemos o seguinte:


Somos um corpo. Assim como a árvore brota da terra, o corpo humano emerge da evolução do Universo. Somos todos feitos de matéria estelar. Nosso corpo tem a idade aproximada de 15 bilhões de anos! Sua gestação teve início quando o calor da explosão inicial do Universo ofereceu a olhos nenhum, a primeira festa cósmica de São João.

O corpo contém o espírito assim como o espírito se consubstancia no corpo. A carne é tão espiritual quanto o espírito tão carnal, indivisíveis, dualidade sem dualismo, semente contida na árvore contida na semente que contém o tronco e galho, seiva, folha e flor, assim como, desde o seu início, o Universo nos continha e desde sempre, Deus nos enlaça em seu abraço amoroso.


Sim, somos um corpo que veio de uma célula criada há bilhões de anos. Esta célula enfrentando vicissitudes e evoluindo chegou ao "homo sapiens" que somos hoje.
Este homem que, muitas vezes , nos faz pensar que vai involuir nos mostrará com o corpo e a alma , neste mês da Copa do Mundo, suas inúmeras potencialidades. Não está tudo perdido, ainda podemos confiar no futuro da humanidade e do Planeta Terra. O futebol nos dá a chave da esperança.

O campo onde se disputa uma partida de futebol e todo o estádio, jogadores e torcedores formam um microcosmo com suas próprias leis. Abole-se o tempo, há um presente total, esquece-se o resto da sociedade, só existe o aqui. É um dos atrativos do jogo: seus participantes não se lembram da profissão, das doenças, da rotina, dos impostos etc.
Trata-se de um microcosmo dentro de um macrocosmo formado pela sociedade, que por sua vez pertence a outro macrocosmo formado pelo Planeta Terra, por todos os sistemas solares e toda a criação de Deus. O macrocosmo inteiro é inatingível para nós, em nosso atual estágio de evolução.

O futebol acende nos seus oficiantes todo um universo de dramaticidade. Dramático significa ação impulsionada para frente, tensão, problema. Analisemos os elementos que o formam:

trágico _ brigas, chutes, palavrões, pressão do tempo, enfrentar o adversário, evitar a morte simbólica;
cômico _ olé, uma bola que não passa: uns vão ao desespero outros batem palmas. A distensão é própria do cômico;
musical_ a melopéia, o som da torcida. Linda melopéia!
religioso_ culto aos ídolos, um ritual que se assiste, o campo é o altar, os jogadores são os celebrantes ou os deuses. Desenvolveremos um pouco este elemento no final do artigo.
pagão_ não tem religião oficial;
orgiástico _ prazer sensual, sexo em grupo: 20 machões perseguem avidamente o feminino simbolizado pelo oco da bola. Fora do estádio: desregramento, bebedeira, festejos;
idílico _ o amor à bola, o canto;
aventuresco_ improvisação, drible, astúcia;
catártico_ a vitória, os xingamentos, a torcida;
frustrante_ as derrotas, as bolas perdidas,
sedento_ desejo da vitória, de se exibir, de existir, de se identificar;
saciado_ o gol, a vitória sacia o desejo;
político_ a organização, a administração, atuação do técnico, do juiz, as injunções. Tirar um ídolo do campo é perder a chance de hipnotizar o povo e outras consequências. Desvio de dinheiro das federações tal qual acontece na política do país. Fortalece a identidade cultural. A FIFA hoje é mais importante que a ONU- congrega mais eficientemente um número grande de nações. Então na África é evidente. É interessante o exemplo da Argélia que conseguiu libertar-se da França , através do futebol. Os jogadores que estavam fora voltaram, reuniram-se , saíram fazendo propaganda pelo mundo. E venceram. O futebol é democrático - hoje o pobre joga com o rico e, se for bom, se enriquece, o negro joga com o branco, o semi-analfabeto com o instruído.
Neste universo há presenças radicais, lideres, pivôs bem definidos, que organizam a partida. Destes, em todos os tempos e lugares, o maior foi o brasileiro Pelé. Uma pena que tenha se tornado um garoto-propaganda... Para aumentar o sabor do presente texto filosófico, vamos recordar uma jogada sua, muito antiga, quando o Brasi jogava com a Argentina:
Pelé recebe a bola na corrida, entra na defesa driblando uma fila de adversários; o último pressentindo o perigo, aplica uma rasteira que alcança Pelé em pleno ar. Pelé se desequilibra, cai de costas, a bola foge de seu domínio, o juiz apita a falta. Mas eis que no instante do apito, Pelé consegue recobrar o equilíbrio, alcança novamente a bola e restabelece a excelente condição de gol que vai conseguir. A essa altura, porém, já o árbitro havia interrompido o jogo e todo o maravilhoso esforço de Pelé resultava inútil. Restou-lhe o consolo de ver o árbitro Juan Armental correr na sua direção e pedir-lhe desculpa por ter apitado. Mais tarde, o juiz explicava à imprensa que aquele fora o maior exemplo de agilidade pessoal jamais visto num campo de futebol nos seus vinte anos de arbitragem.
O imprevisto, a sorte, a espontaneidade aliados à disciplina e à técnica exercem um constante fascínio do povo em geral por esse esporte.
Um bom jogador de futebol nasce feito, isto é, seus dons são inatos ou ele aprende? Resposta: Tem que ter qualidades pessoais e aprender, aperfeiçoar-se.
Agora, vamos continuar a explicar nossas idéias sobre o religioso no futebol, o que desejamos realçar.
O gol é uma posse genital, um ato inaugural de vida, contrário à estagnação, à esterilidade. Chegar às redes é alcançar uma plenitude universal, é o religar-se a um elo perdido, como na religião. Esclarecendo, o feminino (a bola) simboliza a parte visível de nossa origem divina. Observemos, por exemplo, que, em francês, são homônimas as palavras "la mère", a mãe e "la mer", o mar. O líquido amniótico é o símbolo do mar, onde foi criada a primeira célula. O homem é um animal que simboliza, precisamos aprender a raciocinar e sentir dentro de uma simbólica. Tem, assim, o futebol, no momento do gol, o poder de provocar uma comunhão de muitas pessoas reunidas num prazer supremo, orgástico, numa gloriosa fecundação.
O adversário vence o estreito vão de passagem que o arqueiro guarda, este cai ou fica estatelado sem movimento. Fica como se estivesse morto. A morte é sempre começo de outra vida , não existe morte, o que há é um renascimento: a bola voltará ao meio do campo e o jogo recomeçará.
É o movimento cíclico da vida também fora do estádio: nascer, formar microcosmos, competir, decifrar o outro, ajuntar-se ao outro, vencer ou perder, RENASCER.
Estas considerações explicam, em parte, o ímpeto emocional que se experimenta numa partida de futebol.
Que o Brasil seja hexacampeão!!! Assim vamos aprendendo também os prefixos gregos...