terça-feira, 1 de novembro de 2011

Nº 30 A doce canção do consumismo

Como dissemos no blog nº 28: Temos que decidir ser múltiplos sem perder nossa unidade com o Todo, de onde viemos. A individualização é dramática. Corremos o risco de nos perdermos na prostituição da aparência.

Chegamos à conclusão que reintegrar o múltiplo na unidade é um dos maiores problemas humanos, desde o pecado de Adão e Eva no Paraíso.

Buscando amenizar este problema, partimos da reflexão sobre o Ser e o Ter, que muito se comenta e nada se resolve. Hoje, no Ter, no consumismo, reside a maior manifestação exagerada do múltiplo.

O ser humano é o verbo. Emana do Ser Essencial (Deus), que é o Substantivo, efetiva-se Nele para funções da Vida Dele. A vida do ser humano é parte da Vida do Ser Essencial e subsidiária a esta. Todas as vezes que nos distanciamos desta nossa função superior, transcendente, ligada ao Ser Essencial e nos dedicamos exclusivamente, numa atitude egocêntrica, às coisas e fenômenos puramente físicos, sem vida, entramos em desequilíbrio e desequilibramos o mundo. Todas as vezes que esquecemos nossa origem divina, que nos entregamos completamente ao prazer material, que nos coisificamos nos shops, mercados, no mundo do consumismo, da robotização, somos infelizes, porque perdemos nossa reintegração na unidade.

Para sermos unos, como corolário de nossas proposições, resumimos o seguinte:

- manter a solidariedade, o poder mental, a alegria de viver;

- manter atitudes, ações e ideias de presevação do habitat natural do ser humano e dos demais seres vivos;

- procurar resolver nossos problemas sociais como o tratamento do lixo, o cuidado especial com a água, o combate enérgico às injustiças sociais;

- não perder a criatividade sadia e construtiva;

- exercer uma obra assistencial, acabar com a fome, a miséria, os vícios etc.

Tudo isto concretamente, num plano, resoluções e comportamentos concretos. O abstrato encobre covardemente a necessidade de assumir uma posição.

Até aqui fizemos um preâmbulo para enfrentar os acordes insidiosos da "doce canção do consumismo".

Agora, num enfoque eminentemente sócio-cultural, tentaremos dar explicações pertinentes a nosso tema.

Uma das condições fundamentais da Revolução Industrial que se deu nos séculos XVIII e XIX foi a substituição do trabalho artesanal pelo trabalho assalariado, baseado na utilização das máquinas. No primeiro, a eficiência depende da habilidade profissional de cada trabalhador , ao manejar suas ferramentas , isto é seus instrumentos de trabalho. No segundo, a qualidade do trabalho depende menos da habilidade profissional de cada trabalhador que da máquina. O trabalhador perde muito de suas potencialidades humanas e passa a ser um apêndice da máquina e um fator de multiplicação dos lucros capitalistas.

A explosão populacional, consequência da Revolução Industrial, é outra condição nova para a humanidade.

Séculos e séculos se passaram para que a população global da Terra atingisse um bilhão de habitantes, o que se deu em l830. Daí bastaram apenas cem anos para que esse número dobrasse; dois bilhões de habitantes em 1930. Três décadas depois, em 1960, já éramos três bilhões de habitantes. Em 1975, somávamos quatro bilhões. Crescemos em proporção geométrica, gerando graves problemas para todos aqueles que se preocupam com o futuro da humanidade. E assim continuou. Em 1998, seis bilhões de pessoas. Agora, em 2011, 7 bilhões de habitantes. Como alimentar bilhões e bilhões de pessoas que estão e estarão sobre a Terra? Como educá-las, dando-lhes oportunidade de usar o legado cósmico a que têm direito em virtude de possuírem uma personalidade-alma?

Não é vivendo alienados aos problemas da humanidade que vamos entrar na "nova era", não somos criaturas excepcionais, à margem do mundo, os problemas estão também em nós, fazemos parte deles e temos que nos ocupar em resolvê-los. Irritação e preocupação, não, mas ocupação , sim. Uma séria e constante ocupação tem que ser nosso lema, sem perder o sentido lúdico da vida.

Não é alhear-se ao mundo objetivo, ao corruptível e viver no mundo incorruptível que faz o homem alcançar a paz e manifestar o contetamento sincero. Para que o alheamento da consciência a nossos conflitos possa ocorrer, uma desalienação se impõe como uma árdua, longa e ardente conquista. O alheamento não pode ser alienado.

O avanço tecnológico que proporciona ao homem a possibilidade de reinstalar-se no mundo e aperfeiçoar-se tem sido também uma causa para sua mecanização e desumanização.Tem sido utilizado mais para fins materialísticos que espiritualísticos. Mesmo as pessoas ditas religiosas , na maioria das vezes, têm uma visão sectária da religião e o que desejam , no fundo, é comprar um pedaço de Paraíso para depois da morte.

Consideremos que com tamanha explosão demográfica, com o cerceamento da criatividade, com a massificação do trabalho, mais atento ao valor da troca que ao valor de uso das mercadorias, somos seduzidos pela canção das sereias. Não conseguimos nos amarrar no mastro do navio como fez Ulisses na Odisséia.

A "doce canção do consumismo" lança em nossa mente seus acentos insidiosos por toda parte: nos ônibus, nos cartazes da rua, em nossos lares através do rádio, da televisão, da Internet etc. etc.

Com o acréscimo dos signos visuais e musicais aos signos verbais, ela aumenta seu poder, as imagens passam através da rede das nossas disposições e valores conscientes e convocam reações sub e hiperliminares, isto é, reações motivadas por associações traiçoeiramente induzidas ou provocadas pela mobilização ostensiva dos seus meios de fascínio como num ritual religioso ou num show de rock.

Continuaremos a desenvolver o mesmo tema no próximo número.