domingo, 30 de dezembro de 2012

Nº 36 Uma visão negativa. Rumo a Schopenhauer. Continuação

      Mudando a perspectiva, continuamos focalizando Schopenhauer. Ele nos ensina que entre os homens, surgiu com a razão, por uma conexão necessária, a certeza terrível da morte.Este é o maior pavor da humanidade que o carrega durante toda sua vida. Também aí, Schopenhauer, baseando-se no budismo e no bramanismo, nos dá uma honesta terapia para vencer este medo patológico. Na obra O mundo com Vontade e representação, encontra-se no "Suplemento ao livro quarto", capítulp XLI, o texto "Da morte e sua relação com a indestrutibilidade de nosso ser em si". Vamos citar  alguns pontos que consideramos básicos para ajudar os leitores que não leriam a complicada e longa teoria de Schopenhauer. Aliás, complicadas e longas são todas as obras filosóficas consagradas.

     Se o que faz a morte nos parecer tão assustadora fosse a ideia do não-ser, então deveríamos experimentar o mesmo temor diante do tempo em que ainda não éramos. É inconstetável que nós é que tornamos o não-ser depois da morte diferente daquele  anterior ao nascimento. Então, o primeiro que citamos não merece ser tão lamentado. Toda uma infinidade de tempo fluiu quando ainda não éramos, mas isso não nos aflige de modo algum. É desse ponto de vista que Epicuro examinou a morte e assim tinha toda a razão em dizer "que a morte não nos concerne", pois disse ele que "quando somos, a morte não é, e quando a morte é, não somos mais." (Diógenes Laércio). A perda de algo que não podemos constatar a ausência não é nenhum mal: quem poderá negar? Assim o tornar-se não-ser não poderia nos afetar, da mema forma que o não-ter-sido.

     Teremos sempre noção falsa sobre a indestrutibilidade  de nosso ser verdadeiro pela morte, enquanto não nos decidirmos a abandonar os ensinamentos da religião cristã que recebemsos e a começar a estudar tal característica nos animais. Basta que se entranhe seriamente e de boa vontade  no exame desses vertebrados superiores, para que se perceba claramente que é impossível que esse ser insondável, tal como existe, considerado no seu todo, se reduza a nada; não obstante, por outro lado, conhece-se sua transitoriedade. Também a observação empírica do gênero humano nos leva a entender que todas as qualidades distintivas dos pais se reencontram na criança procriada e que assim superaram a morte. A criança continua a sua espécie. Evidencia-se a Vontade de vida, a força da espécie. Abrimos uns parênteses para dizer que a mema importância à espécie dos seres vivos, Schopenhauer dá no capítulo "Metafísica do
 amor". Muito bom! Deixamos a recomendação que o leiam.

     Se apanharmos um botão, o pendurarmos num fio de linha e lhe dermos um movimento giratório rápido, o botão desaparece, só percebemos um círculo. Assim é a espécie, a realidade existente e permanente, a morte e o nascimento são como vibrações.

     A existência de teu ser, depois da destruição do teu corpo, te parece impossível e inconcebível, mas ela é tão impossível e inconcebível como tua existência atual e como chegaste a ela. Estas considerações são apropriadas para despertar a convicção de que em nós há alguma coisa que a morte não pode destruir. O único meio de obtermos este resultado é o nos elevarmos a um ponto de vista do qual o nascimento não é o começo de nossa existência. Essa parte de nós indestrutível pela morte não é propriamente o indivíduo surgido pela procriação e trazendo em si qualidades do pai e da mãe. O indivíduo se apresenta ademais como uma simples diferença da espécie e, como tal, só pode ser finito. Consequentemente, assim como o indivíduo não guarda nenhuma recordação de sua existência antes do nascimento, do mesmo modo, ele não pode, depois da morte, conservar nenhuma lembrança de sua vida atual. Será? Perguntamos.

     A consciência é a vida do sujeito cognoscente e a morte é seu fim. A consciência é finita, sempre nova, sempre pronta a recomeçar, a renascer. Somente a Vontade permanece, pois ela é a Vontade de vida, uma força que apenas quer existir, se evidenciar num mundo que não passa de uma representação.

     Nota-se nesta postagem e na anterior que a filosofia pessimista atribuída ao filósofo polonês talvez não passe de um preconceito ou um mal entendido, quando analisado com outros olhos e comparada à mensagem de outros homens excelsos da humanidade, como Platão, Nietzsche, Buda, Jesus. Acontece que ele foi honesto em sua filosofia. Não sabemos bem se nele há pessimismo ou puro realismo. É importante reler, por exemplo, o último parágrafo da postagem nº 35 para evidenciar um legado positivo de sua filosofia.

     É pena que a lição de altruísmo e a que ele vaticina para todos uma espécie de eterno retorno, um retorno ao nada existencial ou seja ao nirvana, pela contemplação estética, não tenha a repercussão necessária, pois ele não teve a merecida  aceitação. E quanto  à ideia de alcançar o nirvana, aproveitamos para esclarecer que não só a contemplação estética é um caminho, mas que há outros que também podem ser usados como sejam a meditação holística, o êxtase que se sente numa paisagem de primavera no Brasil etc.

    Mas como legados positivos e duradouros de sua obra, citamos:
O conceito de Vontade passou a ser conhecido na Filosofia.
Sofreram, por exemplo, sua influência: Nietzsche, Henri Bergson e os pragmáticos norte-americanos.
No campo da Psicologia, suas ideias sobre desejos e frustração influenciaram as teorias psicanalíticas de Sigmund Freud e Carl Jung.

    Com estas reflexões de Schopenhauer, vamos nos aproximando da Verdade, nem por isso podemos deixar de contestá-las e de reconhecer que não são imutáveis.

    Com pesar, temos de mudar nosso instrumento de exposição, que consideramos indispensável, o que faremos na outra postagem.

    No final de nosso debate, lembramos que o gigantesco progesso tecnológico que alcançamos nos dá conforto, alivia os males de certas doenças, nos aperfeiçoa, mas talvez  tenha trazido mais sofrimento, tenha causado ambição, depressão, assassinatos, roubos, violência, mais o negativo que  o positivo. Não contribui para eliminar o sofrimento do mundo. Estamos no caminho errado. Falta o humano, o criativo, o espiritual.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Nº 35 Uma visão negativa. Rumo a Schopenhauer

          
           Desculpem o longo recesso. Estivemos trabalhando numa peça de teatro e numa exposição de nossos trabalhos artísticos: pintura, fotografia e literatura.  Além disso, a “misteriosa” Internet primeiro sumiu de nosso computador, depois, não fornecia o painel do blog para escrevermos.  Tentamos, perdemos tempo e gastamos  com técnicos de Informática até conseguirmos.

       A partir do blog nº 30, vínhamos dando a nossos textos um enfoque eminentemente sócio-político, passaremos agora, sem perder, a coerência a um enfoque mais metafísico, mais especulativo que científico.  Nele aparentemente estamos nos afastando do prometido epicurismo moderno. Mas para alcançar uma vida feliz temos de constatar  para contestar a vida da maior parte dos homens  e mulheres, destituída de significação e interesse, estudando suas causas.  Hoje, achamos que as maiores causas que podemos observar estão na vedetização, na reificação (coisificação), na manipulação do homem pelo consumismo desabalado e exagerado, incentivado por propagandas insinuantes e mentirosas que procuram manter o poder do governo capitalista que, apesar da mudança brutal  para melhor que houve no Brasil com o governo de Lula e de Dilma Roussef, ainda vigora.  A mídia com seus programas principalmente de televisão e de Internet e também os Shoppings-Centers, nossas atuais catedrais, são os principais instrumentos para a manutenção desta situação.  Estamos construindo super-homens e super-mulheres virtuais e infantilizados. Não sabemos onde fica seu caráter e sua espiritualidade.

          Em seu livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, nosso imensuravelmente grande Machado de Assis, no último capítulo nos avisa com ironia que falhou a invenção do "emplasto Brás Cubas", a inspiração que veio do céu e curaria nossos males.  Sendo assim, nos tornamos eternamente hipocondríacos.  Neste capítulo, intitulado "Das negativas", o personagem nos diz: "Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento.".  Teve na vida também fatos positivos que se equilibraram com os negativos.  Mas um saldo a seu favor, que é a derradeira negativa: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.".

           Disse Brás Cubas "o legado de nossa miséria".  Agora, já não somos miseráveis homens e sim nos anulamos, como disse nosso poeta Carlos Drummond de Andrade em "Eu, etiqueta", transcrito na última postagem (nº 34).  Citamos alguns versos:

 "Já não me convém o título de homem.
Meu nome é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente."

            Entretanto, há filósofos ou artistas-filósofos, como Drummond e Machado e outros poucos homens e mulheres que nos guiam, pois conseguem sair da "caverna" e fixar a luz do lado de fora.  Embora não sejam muitas vezes citados como filósofos, têm a sabedoria da filosofia.

            A filosofia não é apenas atividade de pensadores brilhantes, porém excêntricos, como popularmente se pensa.  Filosofia é o que todos fazemos quando estamos livres de nossas atividades cotidianas e temos uma chance de nos perguntar o que é a vida e o Universo. 

          Chegar às respostas para as questões fundamentais é menos determinante para a Filosofia do que o próprio processo de busca dessas respostas pelo uso da razão, em vez de aceitar sem questionamentos as visões convencionais ou a autoridade tradicional.  Os primeiros filósofos, nas antiguidades grega e chinesa, foram pensadores que, insatisfeitos com as explicações usuais fornecidas pela religião e pelos costumes, procuram respostas embasadas em justificações racionais.  E assim como compartilhamos nossas observações com amigos e colegas, eles discutiram ideias entre si e fundaram "escolas" para ensinar não apenas conclusões a que chegaram, mas a maneira como chegaram até elas.  Eles encorajaram os alunos a discordar e a criticar ideias, como meio de refiná-las e de alcançar visões novas e diferentes. 

             Platão nos ensinou: "Questionar é o atributo de um filósofo porque não há outro início para a filosofia além desse.".  Seu mestre, Sócrates, é o maior exemplo que temos em praticar o debate e o diálogo.  Orgulhava-se de ser o mais sábio entre os homens porque sabia que nada sabia.  Quando percorria o centro comercial de Atenas, dizia aos vendedores que o assediavam: "Estou apenas observando quanta coisa existe e que não preciso para ser feliz!". 

          É a filosofia que nos dá o verdadeiro prazer de viver.  Acima de tudo, temos a satisfação de chegar a crenças e ideias por meio de nosso próprio raciocínio e não por imposição da sociedade, da religião, da escola ou dos filósofos consagrados.  A ignorância deixa o mundo em chamas, a filosofia é que as extingue.

          O início do pensamento filosófico está no desacordo, na dúvida, não apenas com os outros, mas também conosco.  Não há certezas inabaláveis.

           Aproveitando o gancho da visão negativa como indica o título da postagem, consultaremos Schopenhauer (1788-1860), filósofo polonês. 

            Na obra Parerga e Paralipomena (1851), uma glosa e comentários da obra que o imortalizou, O mundo como Vontade e representação, no capítulo XII escreve o texto "Contribuições à doutrina do sofrimento do mundo".  E como contribuiu!  Não percam, leiam Schopenhauer em Schopenhauer!  Magnífico!

            Vivia isolado neste mundo para ele, repleto de males e de homens maus.  Parece-nos que teria concordado com Brás Cubas: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria.", pois era misógino e misantropo.  Machado de Assis, o criador de Brás Cubas, como Schopenhauer, também não teve filhos.  Machado, porém, casou-se e não vivia isolado como Schopenhauer.

             Este  achava que a felicidade não é senão um momento fugaz da ausência da infelicidade.  Vem daí a perspectiva de seu pensamento caracterizado como pessimista: "É uma verdade incrível como a existência da maior parte dos homens é insignificante destituída de interesse, vista exteriormente, e como é surda e obscura sentida interiormente.  Consta apenas de tormentos, aspirações impossíveis; é o andar cambaleante de um homem que sonha através das quatro épocas da vida, até a morte, com um cortejo de pensamentos triviais.  Os homens assemelham-se a relógios que se dá corda e trabalham sem saber a razão.".  Também a obra de Machado comprova muitas vezes esta citação.

            Mas não vamos imobilizar a filosofia de Schopenhauer nem a obra de Machado na classificação de pessimista.  Queremos comentar um pouco mais sobre Schopenhauer.  Faremos reflexões indispensáveis, alcance da maioria, preservando o "gostoso" de se filosofar.

            O mundo como Vontade e representação, como já dissemos, é a grande obra de Arthur Schopenhauer, publicada pela primeira vez em 1818 e pela segunda em 1844.  "O mundo é a minha representação" são as palavras como ele inicia sua principal obra filosófica.  A tese básica de sua concepção é a de que o mundo só é dado à percepção como representação.  Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo.  Carlos Drummond de Andrade dirá no século XX: "O mundo é só um ponto de vista.".

            A Crítica da razão pura de Immanuel Kant, publicada em 1781, introduziu o conceito de "coisa em si", que Schopenhauer usa como ponto de partida para suas ideias.  Kant dividiu a realidade do mundo em fenomênica, que parte de nossas percepções e da "coisa em si" (a essência íntima das coisas).  Esta é instransponível para a razão humana, segundo Kant, portanto, além do nosso alcance.  Para Schopenhauer, embora essa essência íntima das coisas (mundo numênico) esteja encoberta pela representação e seja impermeável ao entendimento, ela é, no entanto, apreendida pela intuição.

            A ideia do conhecimento limitado à experiência não era inédita.  O filósofo pré-socrático Empédocles, tinha dito que "cada homem acredita apenas em sua experiência".  No século XVII, John Locke afirmou que "nenhum conhecimento do homem pode ir além de sua experiência".  Aristóteles (384-322 A.C.) disse que "nada chega ao intelecto, antes de passar pelos sentidos".  Protágoras (481-411 A.C.), um sofista, é o autor da famosa frase "O homem é a medida de todas as coisas.".

            Schopenhauer, além disso, nos dá conceito de Vontade que vai numa significação muito maior que aquela que na linguagem corrente empregamos esta palavra.  Trata-se de uma Vontade universal para representar uma energia pura que não tem direção ativa e mesmo assim é responsável por tudo o que se manifesta não só no mundo numênico mas também no mundo fenomênico: no instinto sexual, no crescimento das plantas, nas pedras, enfim no perpétuo movimento da vida e da morte.  A Vontade do mundo não indica o tempo, nem segue leis espaciais ou causais.  ela deve ser atemporal e indivisível e da mesma forma devem ser nossas vontades individuais.  Segue, então, que a Vontade do Universo e a vontade individual são uma única coisa e o mundo fenomênico está sobre o controle dessa Vontade vasta e imotivada.

             Ele estudou, em detalhes, pensadores e religiões orientais.  No Bhagavad Gita, hindu, viu que Krishna, o cocheiro diz à Arjuna que o homem é escravo de seus desejos, a menos que consiga se libertar deles.  Para Schopenhauer, o mundo não é bom nem ruim, mas sem significado, e os homens que lutam para encontrar a felicidade alcançam na melhor das hipóteses a satisfação de um desejo que abrirá a porta para outros desejos - e na pior, dor e sofrimento.  Ele acredita na reencarnação, que para aqui viemos a fim de expiar nossas faltas.

             A única saída dessa condição miserável, de acordo com Schopenhauer, é a não existência ou, pelo menos, uma privação da vontade de satisfação.  Propõe que o alívio pode ser buscado por meio da contemplação estética, especialmente da música, a arte que pode libertar-se da representação do mundo fenomênico.  Aqui, a filosofia de Schopenhauer ecoa o conceito budista do nirvana (estado transcendental, livre do desejo e da dor).  Novamente reflete a filosofia oriental quando ensina que as vontades individuais e a do Universo são uma única coisa e diz que, por isso, podemos descobrir uma empatia com o mundo e tudo mais.  Nascendo o altruísmo que passa a compaixão, desaparecendo o egoísmo.  Aí está um legado seu que é otimista.


segunda-feira, 11 de junho de 2012

Nº 34 Avaliação dos textos sobre o consumismo


A senda de nossa vida é mutante e flexível, não há receitas, segui-la é abraçar  um processo probalístico e não fatalístico.

Com muita meditação, muita inspiração e transpiração, conseguiremos abrir, a cada novo instante, novos caminhos para nossa evolução maior.  Atingiremos um sábio discernimento, para atuarmos na sociedade técnico-burocrática de consumismo dirigido que é a nossa.

Apenas desejamos oferecer 03 tópicos para nossa reflexão:

1 - Será certo empregar o tempo precioso de nossa vida nos movimentando dentro deste círculo infernal?














2 - Os poetas são as antenas da humanidade.  Que lhe diz o seguinte poema de Carlos Drummond de Andrade?  Observe seu tom mordaz, próprio do estilo pós-modernista.


Eu, etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu corpo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso dos outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
da sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê-la - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou subordo algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco de roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costura, sou tecido,
sou gravado de forma universal
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como sígno de outros
objetos estéticos, tarifados.
Por me ostentar assim tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.


3 - Em que podemos relacionar o seguinte ensinamento com as postagens referidas deste Blog: 30, 31, 32 e 33?

A Iluminação Cósmica proporciona ao indivíduo o conhecimento de todas as coisas, pois sua fonte é a própria Consciência de Deus.

Na busca amorosa do Bem, às vezes, existe a dolorosa sensação de queda e privação, mas sem este amor a lei centrífuga nos dominaria completamente e baniria nossa alma para longe de sua fonte, às extremidades insensíveis do material e da multiplicidade.  Com este amor, o sábio reconhece a ideia do Bem em seu próprio interior, expandido seu ser para cima, rumo à fonte divina que flui dentro de si, isto é, reintegrando-se ao Uno Primitivo.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nº33 Mercadoria antropomorfizada, homemcoisificado




          Hoje, 13 de maio de 2012, Dia das Mães e da Abolição da Escravatura no Brasil, dedicamos este blog às mães e aos afro-brasileiros, desejando-lhes sempre uma vida humana e onde a liberdade e o amor encontrem sua verdadeira significação, sem qualquer semelhança com Alphaville. Que as palavras que usamos para expressarem nossos desejos não sejam estereótipos comerciais, que aprendamos a tirar a ferrugem das palavras, como pede o poeta Domício Proença Filho, autor de excelentes livros de Poesia Negra.
          Como um preito de gratidão, oferecemos-lhes este estudo que  intitulamos "Mercadoria antropomorfizada, homem coisificado".
           Terrível quiasmo que nós mesmos criamos.
           Já não temos mais controle de suas consequências : os bullings, o tráfico e uso de drogas, a violência, a corrupção, a histeria coletiva: incêndios, quebrações.
          Os poderosos causam as crises, vão impor novos sacrifícios durante as crises e, se vencerem, continuarão injustos e gananciosos.
          Os diversos meios de informação da sociedade contemporânea, divulgadores de uma ideologia aristocrática, direitista, estão intoxicando o homem e obrigando-o a agir e pensar de uma forma pervertida e irreal, despertando necessidades que não são humanas, bloqueando-lhe comportamentos e ideias que deveriam ser exercitadas para seu próprio apefeiçoamento e desenvolvimento.
         Predomina a reificação - os homens são coisas - e as coisas estão personificadas, elas é que determinam a vontade e a consciência dos homens. A criatura humana reduz-se a um boneco que caminha com trejeitos pavlovianos, entre objetos que vivem, falam, sorriem e lhe estendem os braços.
         Este quiasmo é um obstáculo para que entremos na "nova era", a era de paz e amor; discuti-lo é estudar uma dimensão do trágico moderno, em suas mais ásperas contradições, que não se resolvem só no plano metafísico, mas que se desenrolam num plano especificamente social.
          Os tons melífluos e atraentes da canção do consumismo põem em risco toda e qualquer certeza existencial, fazem-nos perder a direção e nos empurram para o abismo. O Todo nos procura e não nos pode encontrar porque estamos fragmentados, esmigalhados pelo fator econômico.
          Os consumidores necrosados, como outros tantos "morituri" do império romano, repetem a frase: "Morituri te salutant". São aqueles que devem morrer, isto é, perder sua identidade, adorar os fetiches que internalizaram. Mesmo assim saúdam as máquinas e a máquina econômica com seu sistema de opressão e bloqueio.
          Quando, por exemplo, damos preferência a pratos típicos mineiros como torresmo e lombo assado ou estamos assistindo a uma festa folclórica e estamos pensando ser muito originais e autênticos, na verdade, nos venderam mais esta ilusão e nossos atos não passam da manifestação da praxis fetichizada e fragmentária, no tráfico e manipulação de mercadorias.
          O indivíduo deve andar em peregrinação pelo mundo para conhecer e ajudar a si mesmo e aos outros. Mas, neste simples andar pelo mundo, o sujeito modifica o mundo e a experiência obtida o modifica porque sua visão passa a refletir a sua posição para com o mundo, nas suas variações de uma ação revolucionária ou resignada.
           Os censores temem perder suas vantagens e buscam manter a ordem implantada, mas o que se encontra é o caos, coisas múltiplas e desconexas, a falta de sentido. Tentar recompor o Todo parece uma tarefa de Sísifo. Ou estará na hora de engendrar a estrela de Niezsche?
          Não temos a resposta para solucionar o problema.
          Estamos ainda num semelhante impasse ao da cidade de Alphaville da célebre invenção de Jean-Luc Godard da década de 60. Vejam o DVD deste filme. A cidade é dominada pelo computador, pelo racionalismo, que aboliu os sentimentos. O agente Lemmy Caution que não pertencia à cidade vai lá, com a missão de encontrar seu inventor, o Prof. Von Braun, e convencê-lo a destruir a máquina. Mas já que não pôde destruir o computador, todos ficaram sujeitos a desumanizar-se. Todo mundo preza a segurança lógica, a organização de Alphaville , entretanto perde o sentimento. Um dos habitantes foi condenado à morte porque chorou quando a esposa morreu. Chegaram a criar uma Bíblia que era um dicionário que a população de lá tinha que seguir, sob pena de ser castigada, de ser friamente eletrocutada. A palavra paixão foi abolida do dicionário, passou a ser "volúpia". Não se pode investigar o "por quê?" e sim só usa o "porque" que é indiscutível. Faz-nos lembrar o conceito de Rimbaud, poeta francês, "mudar a linguagem é mudar o mundo", embora numa circunstância muito diferente da que estamos falando. Há os faltosos que dão chance de recuperação, isto é, de voltarem a ser máquinas, são enviados aos h.d.l., hospitais de doenças longas. No final, os habitantes perdem a força cambaleiam, não conseguem andar. Dizem que a causa foi a falta de claridade, provocada pelos edifícios.
             E agora, José?
             Lembremos a canção espanhola: Caminhante, não há caminho, o que há é o andar

                   


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nº 32 A doce canção do consumismo - continuação


            A toda-poderosa ideologia burguesa dominante, utilizando seus aparelhos de persuasão, parte do homem e de sua liberdade  para mascarar  e impor a ilusão do livre poder humano, quando , na verdade as forças poderosas pertencem `a exploração capitalista.
            Acontece que todas as propagandas, políticas, comerciais, religiosas  ou outras usam a técnica de " dourar apílula". Ovídio, poeta latino do começo da era cristã, em uma de suas poesias eróticas, Os amores, escreveu uma frase muito familiar: "Sob o doce mel escondem-se venenos terríveis". Tal sentença é polissêmica, no momento queremos chamar a atenção para os discursos usados na comunicação, falsos, enganadores,camuflados. Aprendam a lê-los pois o "doce mel" esconde o veneno terrível da exploração capitalista. Todos eles foram forjados por cabeças ambiciosas, repletas de cifrões. Se formos citá-los vamos escrever um livro. É preciso que todos observem as mercadorias, a Internet, as revistas etc. Vivemos no reino das aparências. A nossa insa- ciável procura por uma resposta está muito além dos conteúdos das tresloucadas propagandas. Santo Agostinho (354-430), um dos principais filósofos da era cristã é extremamente atual em muitas de suas reflexões. Assim, na obra A cidade de Deus,  referindo-se à felicidade perene, escreveu: "Não pode saciar a fome quem lambe pão pintado".
            E não pára, a cada fase do processo de acumulação de capitais, correspondem mecanismos  condicionadores que conquistam os corações e as mentes.
              A uma grande concentração técnica corresponde uma concentração burocrática. A concentração técnico-burocrática visa ao lucro, às oportunidades políticas e, para isto, procura atrair o consumidor, lançando sempre um produto "novo".
              Esta engrenagem da produção desarticulou todas as antigas relações sociais, o homem tornou-se paradoxalmente uma presa de seu sistema .
                Neste ponto, a psicanálise de Freud coincide com a diálética da civilização: o próprio progresso da civilização conduz à liberação de forças cada vez mais destrutivas.

                        Ao sofrer os ataques do super-ego ou talvez ao sucumbir a eles o ego está enfrentando um destino semelhante ao dos protozoários que são destruídos pelos produtos de desintegração que eles próprios criaram. The ego and the id. Londres, Hogarth Press, 1950, p. 66.


                        O homem, transformado em marionete, movido por fios manipulados pelos Viscondes Coca-Cola  e por outros, produz objetos em massa  para causar-lhe um prazer narcotizante (diferente do preconizado por Epicuro) e manter sua alienação; ao mesmo tempo, fabrica vedetes  ou seja olimpianos modernos, as "celebridades" tais como Tony Ramos, Pelé, Xuxa, o Papa João XXIII, Michael Jackson, Batman, Rodrigo Santorum e muitos e muitos outros. Eles lá estão na revista Caras e em toda a mídia. São os novos deuses do século XX eXXI ou a redivinização dos antigos, que se presentificam insistentemente nos MCM.
                 Tenham eles intenção ou não de se vedetizarem, vendem sua imagem, tornam-se verdadeiras mercadoria. Geralmente se comprazem com sua situação privilegiada e concorrem para tornarem-se objetos de raro valor e contibuem  para a massificação, a automatização e o consumismo desenfreado do homem. Hoje, sem dúvida nenhuma os novos deuses do capitalismo substituíram os antigos valores da religião e da família. A sociedade adora os ídolos de carne e osso e a eles se oferecem no altar do consumismo.
                  Certos nomes tradicionais são usados, quase sempre, apenas como iscas. Vejamos uma das inúmeras propagandas políticas, intitulada "Tempo de Natal":

                   Senhor Jesus
                                      Ante o Natal
                                      Que nos refaz na Terra o mais formoso dia,
                                      Somos gratos a todos os irmãos,
                                      Que te festejam,
                                      Entrelaçando as mãos
                                      Nas obras do progresso.

                                   
                                      Está repleta de estereótipos linguísticos e mentais capazes de impressionar os eleitores , inclusive o nome de Jesus. O candidato quer é o seu próprio progresso material,  é aumentar cada vez mais sua capacidade de consumo.
                    É preciso aprender a diferençar a linguagem apelativa da linguagem autenticamente emotiva e poética.
                     Os olimpianos concentram na dupla natureza o germe pernicioso da projeção-identificação. Realizam as fantasias que os mortais não podem realizar e incitam a si próprios e os outros mortais a realizarem o imaginário impossível. Conjugando o cotidiano com o divino, os olimpianos são os modelos da cultura de massa que tendem a destronar os antigos modelos: pais, educadores, heróis nacionais, Deus e os santos.
                    A mitologia olimpiana é uma faca de dois gumes em relação à cultura de massa. Se ela é um instrumento ideológico a serviço da alienação do povo, se é o ópio sociológico, é simultaneamente uma prova da estupidez da sociedade industrial, porque o tema de liberdade e de felicidade que se apresenta ostensivamente na tela ou na imprensa é impossível de se realizar no mundo fechado, burocratizado.
                     É certo que as vedetes destroem os valores tradicionais e mantêm os sonhos projetivos, mas, ao mesmo tempo, transformam alguns desses sonhos em aspirações. Trata-se de uma problemática universal que merece longas considerações. Cabe-nos apenas dizer que não é possível manter a humanidade num sonambulismo permanente e que o processo de projeção e identificação sofre uma inversão e torna-se um agente de inadaptação e crime, como já estamos desesperamente sentindo na própria pele.
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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Nº 31 Verão no Brasil




  •            Os incentivos do verão ocuparam um pouco nossas reflexões para redigir o 31º blog de nossa produção. Não procuramos isolar-nos numa "torre de marfim". Estudamos as festas do verão brasileiro inclusive o carnaval. É uma brasa... no Brasil.
  •             O fogo do Sol, o calor infernal, as orgias, a liberação desordenada dos instintos, o excesso de bebidas , uma certa nudez exibicionista, o culto exagerado à matéria, especialmente no carnaval são alguns fatos que justificam ser o verão em certos lugares regido pela carta nº 15 do tarô , o Diabo.
  •             O Diabo está solto no verão. Mas ninguém se assuste , pense primeiro na ambiguidade do arcano nº 15: ele é Satanás , mas também é Lúcifer, o portador da luz. Em nossa cultura há desprezo  pelo material, ao qual se associa o Diabo, sentimento vindo da Idade Média , quando o tarô chegou à Europa.
  •            Porém, as religiões antigas consideravam que a energia espiritual e sexual eram a mesma. O uso indevido de uma ou de outra é que gera o mal, a perversão. No Antigo Testamento, o próprio Jeová diz: "Eu sou o Senhor e não há mais ninguém. Formo a luz e a escuridão. Faço a paz e crio o mal: Eu, o Senhor, faço todas as coisas ."
  •             Psicólogos afirmam que o descuido pelo lado demoníaco do homem é a principal causa das desgraças do mundo de hoje. Nossos instintos reprimidos e não trabalhados, agora explodem em forma de guerras, crimes, destruição geral. Diante do desequilíbrio atual, é imperativo um acordo com a força diabólica . Estamos na era da relatividade, há uma relativização entre o bem e o mal, não se sabe onde começa um e acaba o outro. Jung, em a Interpretação do dogma da Trindade, admite uma quaternidade arquetípica, onde o diabolus seria o quarto elemento, opondo-se ao Filius.
  •             O homem é uma alma que se consubstancia no corpo. A carta nº 15 se imiscui em nossas vidas no verão e mesmo nas outras estações. Não escapamos de vivenciá-la. A matéria não é má, mau é o uso que muitas vezes fazemos dela. Se enfrentarmos os fantasmas do inconsciente, não nos furtaremos a receber o lado luz do arcano nº 15: o êxito nos estudos, no trabalho e para ganharmos dinheiro, o vigor físico, a versatilidade, o magnetismo pessoal.
  •           Que o calor, o renovar de energias, as horas de folga, de confraternização, de encontros amorosos no verão nos façam refletir sobre o destino da natureza humana. E já não sendo mais ingênuas criancinhas presas aos códigos superpostos da cultura, assumamos a responsabilidade  em face da inquietante frase de Sartre:"Estamos condenados a ser livres." Nosso corpo é uma flauta onde Deus sopra , não deixemos nossa flauta desafinar no estuante e pleno verão!
  •              Não somos alienados. Temos uma consciência clara e adogmática dos fatos. Arejamos nossas ideias e assim chegamos a estas conclusões necessárias e que acabamos de passar a nossos leitores.
  •              Voltaremos, como prometemos, ao tema que iniciamos no blog Nº 30.
  •              Uma das manifestações do "capetalismo" está na muito doce canção do consumismo. Ela é falsa e insistente.
  •             Observemos:
  • Tome cerveja, tome cerveja numa propaganda linda e insinuante. Bem rapidinho o aviso: Se dirigir, não beba.
  • A aids é contagiosa e perigosa. O aborto é crime. Mas, seja atraente e sexy com tal ou tal produto de beleza. Assista a filmes, novelas, programas da mídia para preencher o vazio da sua vida. Ligue a Internet e veja dezenas de sites pornográficos. Fulana de Tal nua na Playboy. Bata o pezinho, faça beicinho e leve seu namorado para o Motel Snob.
  • Remédios e aparelhos para emagrecer, ao mesmo tempo, uma irresistível gastronomia.
  • Et coetera, et coetera... Continue esta análise, é um excelente exercício.
  •              Na propaganda tudo vai bem no melhor dos mundos possível. É o otimismo da mentira, não gosta do não, nela há uma profusão de sins, de sorrisos, de sensacionalismos, de qualidades indiscutíveis. É a linguagem apelativa a serviço de  para angariar o lucro comercial ou de fazer o receptor  um homem comportadinho para ajudar a manutenção do sistema social e não abalar o bem-estar das classes privilegiadas.
  •          A dominação, a compulsão repetitiva, os fluxos utópicos por ela produzidos  são sempre suspeitos.
  •           A moderna tecnologia de comunicações  de massas, os fundos generosos da empresas e dos governso interessados na propaganda hipertrofiaram seu valor e atuação.Para isso intensificaram-se o aperfeiçoamento de suas técnicas,  as pesquisas junto a grupos sociais, com o fim de estudá-la e ela constitui-se uma ciência de gabinete.