quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nº 32 A doce canção do consumismo - continuação


            A toda-poderosa ideologia burguesa dominante, utilizando seus aparelhos de persuasão, parte do homem e de sua liberdade  para mascarar  e impor a ilusão do livre poder humano, quando , na verdade as forças poderosas pertencem `a exploração capitalista.
            Acontece que todas as propagandas, políticas, comerciais, religiosas  ou outras usam a técnica de " dourar apílula". Ovídio, poeta latino do começo da era cristã, em uma de suas poesias eróticas, Os amores, escreveu uma frase muito familiar: "Sob o doce mel escondem-se venenos terríveis". Tal sentença é polissêmica, no momento queremos chamar a atenção para os discursos usados na comunicação, falsos, enganadores,camuflados. Aprendam a lê-los pois o "doce mel" esconde o veneno terrível da exploração capitalista. Todos eles foram forjados por cabeças ambiciosas, repletas de cifrões. Se formos citá-los vamos escrever um livro. É preciso que todos observem as mercadorias, a Internet, as revistas etc. Vivemos no reino das aparências. A nossa insa- ciável procura por uma resposta está muito além dos conteúdos das tresloucadas propagandas. Santo Agostinho (354-430), um dos principais filósofos da era cristã é extremamente atual em muitas de suas reflexões. Assim, na obra A cidade de Deus,  referindo-se à felicidade perene, escreveu: "Não pode saciar a fome quem lambe pão pintado".
            E não pára, a cada fase do processo de acumulação de capitais, correspondem mecanismos  condicionadores que conquistam os corações e as mentes.
              A uma grande concentração técnica corresponde uma concentração burocrática. A concentração técnico-burocrática visa ao lucro, às oportunidades políticas e, para isto, procura atrair o consumidor, lançando sempre um produto "novo".
              Esta engrenagem da produção desarticulou todas as antigas relações sociais, o homem tornou-se paradoxalmente uma presa de seu sistema .
                Neste ponto, a psicanálise de Freud coincide com a diálética da civilização: o próprio progresso da civilização conduz à liberação de forças cada vez mais destrutivas.

                        Ao sofrer os ataques do super-ego ou talvez ao sucumbir a eles o ego está enfrentando um destino semelhante ao dos protozoários que são destruídos pelos produtos de desintegração que eles próprios criaram. The ego and the id. Londres, Hogarth Press, 1950, p. 66.


                        O homem, transformado em marionete, movido por fios manipulados pelos Viscondes Coca-Cola  e por outros, produz objetos em massa  para causar-lhe um prazer narcotizante (diferente do preconizado por Epicuro) e manter sua alienação; ao mesmo tempo, fabrica vedetes  ou seja olimpianos modernos, as "celebridades" tais como Tony Ramos, Pelé, Xuxa, o Papa João XXIII, Michael Jackson, Batman, Rodrigo Santorum e muitos e muitos outros. Eles lá estão na revista Caras e em toda a mídia. São os novos deuses do século XX eXXI ou a redivinização dos antigos, que se presentificam insistentemente nos MCM.
                 Tenham eles intenção ou não de se vedetizarem, vendem sua imagem, tornam-se verdadeiras mercadoria. Geralmente se comprazem com sua situação privilegiada e concorrem para tornarem-se objetos de raro valor e contibuem  para a massificação, a automatização e o consumismo desenfreado do homem. Hoje, sem dúvida nenhuma os novos deuses do capitalismo substituíram os antigos valores da religião e da família. A sociedade adora os ídolos de carne e osso e a eles se oferecem no altar do consumismo.
                  Certos nomes tradicionais são usados, quase sempre, apenas como iscas. Vejamos uma das inúmeras propagandas políticas, intitulada "Tempo de Natal":

                   Senhor Jesus
                                      Ante o Natal
                                      Que nos refaz na Terra o mais formoso dia,
                                      Somos gratos a todos os irmãos,
                                      Que te festejam,
                                      Entrelaçando as mãos
                                      Nas obras do progresso.

                                   
                                      Está repleta de estereótipos linguísticos e mentais capazes de impressionar os eleitores , inclusive o nome de Jesus. O candidato quer é o seu próprio progresso material,  é aumentar cada vez mais sua capacidade de consumo.
                    É preciso aprender a diferençar a linguagem apelativa da linguagem autenticamente emotiva e poética.
                     Os olimpianos concentram na dupla natureza o germe pernicioso da projeção-identificação. Realizam as fantasias que os mortais não podem realizar e incitam a si próprios e os outros mortais a realizarem o imaginário impossível. Conjugando o cotidiano com o divino, os olimpianos são os modelos da cultura de massa que tendem a destronar os antigos modelos: pais, educadores, heróis nacionais, Deus e os santos.
                    A mitologia olimpiana é uma faca de dois gumes em relação à cultura de massa. Se ela é um instrumento ideológico a serviço da alienação do povo, se é o ópio sociológico, é simultaneamente uma prova da estupidez da sociedade industrial, porque o tema de liberdade e de felicidade que se apresenta ostensivamente na tela ou na imprensa é impossível de se realizar no mundo fechado, burocratizado.
                     É certo que as vedetes destroem os valores tradicionais e mantêm os sonhos projetivos, mas, ao mesmo tempo, transformam alguns desses sonhos em aspirações. Trata-se de uma problemática universal que merece longas considerações. Cabe-nos apenas dizer que não é possível manter a humanidade num sonambulismo permanente e que o processo de projeção e identificação sofre uma inversão e torna-se um agente de inadaptação e crime, como já estamos desesperamente sentindo na própria pele.
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