Hoje, 13 de maio de 2012, Dia das Mães e da Abolição da Escravatura no Brasil, dedicamos este blog às mães e aos afro-brasileiros, desejando-lhes sempre uma vida humana e onde a liberdade e o amor encontrem sua verdadeira significação, sem qualquer semelhança com Alphaville. Que as palavras que usamos para expressarem nossos desejos não sejam estereótipos comerciais, que aprendamos a tirar a ferrugem das palavras, como pede o poeta Domício Proença Filho, autor de excelentes livros de Poesia Negra.
Como um preito de gratidão, oferecemos-lhes este estudo que intitulamos "Mercadoria antropomorfizada, homem coisificado".
Terrível quiasmo que nós mesmos criamos.
Já não temos mais controle de suas consequências : os bullings, o tráfico e uso de drogas, a violência, a corrupção, a histeria coletiva: incêndios, quebrações.
Os poderosos causam as crises, vão impor novos sacrifícios durante as crises e, se vencerem, continuarão injustos e gananciosos.
Os diversos meios de informação da sociedade contemporânea, divulgadores de uma ideologia aristocrática, direitista, estão intoxicando o homem e obrigando-o a agir e pensar de uma forma pervertida e irreal, despertando necessidades que não são humanas, bloqueando-lhe comportamentos e ideias que deveriam ser exercitadas para seu próprio apefeiçoamento e desenvolvimento.
Predomina a reificação - os homens são coisas - e as coisas estão personificadas, elas é que determinam a vontade e a consciência dos homens. A criatura humana reduz-se a um boneco que caminha com trejeitos pavlovianos, entre objetos que vivem, falam, sorriem e lhe estendem os braços.
Este quiasmo é um obstáculo para que entremos na "nova era", a era de paz e amor; discuti-lo é estudar uma dimensão do trágico moderno, em suas mais ásperas contradições, que não se resolvem só no plano metafísico, mas que se desenrolam num plano especificamente social.
Os tons melífluos e atraentes da canção do consumismo põem em risco toda e qualquer certeza existencial, fazem-nos perder a direção e nos empurram para o abismo. O Todo nos procura e não nos pode encontrar porque estamos fragmentados, esmigalhados pelo fator econômico.
Os consumidores necrosados, como outros tantos "morituri" do império romano, repetem a frase: "Morituri te salutant". São aqueles que devem morrer, isto é, perder sua identidade, adorar os fetiches que internalizaram. Mesmo assim saúdam as máquinas e a máquina econômica com seu sistema de opressão e bloqueio.
Quando, por exemplo, damos preferência a pratos típicos mineiros como torresmo e lombo assado ou estamos assistindo a uma festa folclórica e estamos pensando ser muito originais e autênticos, na verdade, nos venderam mais esta ilusão e nossos atos não passam da manifestação da praxis fetichizada e fragmentária, no tráfico e manipulação de mercadorias.
O indivíduo deve andar em peregrinação pelo mundo para conhecer e ajudar a si mesmo e aos outros. Mas, neste simples andar pelo mundo, o sujeito modifica o mundo e a experiência obtida o modifica porque sua visão passa a refletir a sua posição para com o mundo, nas suas variações de uma ação revolucionária ou resignada.
Os censores temem perder suas vantagens e buscam manter a ordem implantada, mas o que se encontra é o caos, coisas múltiplas e desconexas, a falta de sentido. Tentar recompor o Todo parece uma tarefa de Sísifo. Ou estará na hora de engendrar a estrela de Niezsche?
Não temos a resposta para solucionar o problema.
Estamos ainda num semelhante impasse ao da cidade de Alphaville da célebre invenção de Jean-Luc Godard da década de 60. Vejam o DVD deste filme. A cidade é dominada pelo computador, pelo racionalismo, que aboliu os sentimentos. O agente Lemmy Caution que não pertencia à cidade vai lá, com a missão de encontrar seu inventor, o Prof. Von Braun, e convencê-lo a destruir a máquina. Mas já que não pôde destruir o computador, todos ficaram sujeitos a desumanizar-se. Todo mundo preza a segurança lógica, a organização de Alphaville , entretanto perde o sentimento. Um dos habitantes foi condenado à morte porque chorou quando a esposa morreu. Chegaram a criar uma Bíblia que era um dicionário que a população de lá tinha que seguir, sob pena de ser castigada, de ser friamente eletrocutada. A palavra paixão foi abolida do dicionário, passou a ser "volúpia". Não se pode investigar o "por quê?" e sim só usa o "porque" que é indiscutível. Faz-nos lembrar o conceito de Rimbaud, poeta francês, "mudar a linguagem é mudar o mundo", embora numa circunstância muito diferente da que estamos falando. Há os faltosos que dão chance de recuperação, isto é, de voltarem a ser máquinas, são enviados aos h.d.l., hospitais de doenças longas. No final, os habitantes perdem a força cambaleiam, não conseguem andar. Dizem que a causa foi a falta de claridade, provocada pelos edifícios.
E agora, José?
Lembremos a canção espanhola: Caminhante, não há caminho, o que há é o andar