sexta-feira, 8 de abril de 2011

N° 26 Tiradentes

Interrompemos um pouco as reflexões especiais sobre a Prosperidade, para aproveitar as provocações que nos traz o mês de abril, com suas comemorações a Tiradentes e à Páscoa.
Começaremos homenageando Tiradentes. Será também uma oportunidade de nos referirmos novamente à Estética, a ciência do belo ou à ciência das sensações que tem como problema básico um certo gênero de prazer, o que equivale a dizer que é indefinível. O prazer só existe no instante e nada é mais individual, mais incerto, mais incomunicável. O estético é mais sensível que pensável. Percebemos com nossos sentidos o espanto mas não podemos definir o espantável. Pretendemos apresentar a nossos leitores uma possível mensagem estética.

Tentando cumprir nossa proposta, copiaremos, a seguir, o poema "Tiradentes", de nossa autoria.


"Muitas cabeças unidas num só corpo". (juramento proposto por Alvarenga Peixoto, na conjuração mineira).


No final...

o corpo partido

cabeça

tronco

e membros

só os do Alferes,

o Exceto.


No silêncio...

tremem de pavor

cavalos

pássaros

árvores

rio

estrelas

terra salgada

estradas de Minas,

diante do sangue inocente

da carne retalhada

do Morto.


No patíbulo...

ainda vive

entre os fios da corda

a palavra enforcada

de um Brasil

Espoliado.


Na dor...

de cada fome

no desespero

de cada sede

o sangue,

o fígado,

o coração

entregues ao estrangeiro.

As cicatrizes.


Na edênica natureza...

as riquezas

a esperança

destruídas pelos

senhores da pecúnia,

os Abutres.


No sonho...

festa do carnaval

futebol sensacional

reformas políticas

saúde

educação

cidadania

promessas

anestesiam

os Irmãos.


Nas dobras da História...

as sementes adubadas

pelo povo

ainda enforcado.

Flores e frutos

AINDA

uma Utopia.


Todos somos Joaquim José da Silva Xavier

Joaquim José da Silva Xavier.


Libertas quae sera tamen!


Agora, como transcreveremos os "Imaginários de Aninha (Dos Autos da Inconfidência Mineira)", da autoria de Cora Coralina, vamos dar ligeiras notas biográficas da poeta.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas nasceu na cidade de Goiás em 20-8-1889, viveu muitos anos em São Paulo, faleceu em Goiânia em 10-4-1985.

Teve 4 filhos, criou-os e mais uma filha do marido com uma índia, ajudava em solteira a mãe a lavar roupa para fora, foi doceira e poeta.

Sua extensa obra literária é uma prosa poética excelente e de fácil leitura.

Vamos ver o que nos diz Paulo Bonfim, um poeta falando de uma poeta:

A Cora Coralina

Cora-Coragem,/ Cora-Poesia,/ Cora-Palavra,/ Cora-Protesto,/ Cora-Justiça,/ Cora-Paixão,/ Cora-Mulher!/ Na inquietação-Coralina,/ Na procura-Coralina,/ Nos combates-Coralina,/ Nos Goiases-Coralina!/ E de Cora Coralina/ É o verbo que se fez verso!/ Ave Poesia, cheia de graça,/ Nave Goiás-Anhanguera,/ Bênção Cora Coralina!

A seguir, o citado poema de Cora Coralina:


Sonhava com as ladeiras de Ouro Preto.

E no desvão de um beco

Me encontrei na frente de um vulto estranho, desusado,

Trêmulo, de um velho medo do passado.


Perguntei o que fazia ali parado.

E ele me disse num jeito amendrotado

Ser o fantasma de um Inconfidente deportado.


E me contou do ideal antecipado

Da liberdade cerceada.

Da sede de uma independência fracassada

E que viria trinta e dois anos mais tarde,

Não em conluio de reuniões furtivas

E sim, numa cavalgada histórica e festiva.


E veio a delação. Os medos, aquela confusão.

Prisões. Suicídio, ocultos e fugitivos apavorados.

A masmorra sombria. Todos se acusando.

Negando o grande gesto. Acovardados.


Um, entre tantos, aceitaria a pesada culpa,

Do plano malogrado.

E quem agitou o quepe engalanado

E sacou da espada fulgurante,

Não foram mais os românticos renegados.

E sim, um descedente

Da mesma soberana que alguns lustros antes,

Mandara esquartejar o cadáver

Enforcado de Tiradentes e deixá-lo em postes ignóbeis

Por vilas e cidades,

Nos caminhos de Vila Rica.

Hoje, Patrono das Polícias Militares

Consagrado no Thabor da posteridade.


E aquela que assinou a sentença infamante

E mandou destruir e salgar o chão de sua casa,

Está assinalada: D. Maria I - A louca.

Os que sobreviveram, deportados pelas terras negras da África,

A história vai esquecendo, inexoravelmente,

Seus nomes, seus medos, suas covardias.


Nos autos revisados da Independência

a sombra romântica de Marília.


É claro que os eruditos teóricos da literatura veem muitos defeitos na obra da Drª Cora Coralina. Doutora em ajudar seus semelhantes!


A próxima postagem será sobre a Páscoa. Aguardem.








Libertas quae sera tamen !






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