Vamos contradizer a memorável música de Lupicínio Rodrigues de 1931, regravada por Caetano em 1974, mesmo ano da morte de Lupicínio.
No Patropi, no mais estuante verão e no mais rigoroso inverno, descobrimos uma primavera dentro de nós. Primavera que, no momento, tomamos como o símbolo felicidade.
Imagine: uma felicidade primaveril, uma primavera feliz! Existe aí? Existe aqui onde nós estamos?
Não endossamos os dois tercetos do soneto "Velho Tema" de Vicente de Carvalho, embora reconheçamos seu valor literário:
Essa felicidade que supomos
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.
Não resistimos à chance de fazer uma análise estilística, com base na Teoria Literária que é filosófica, destes tão lindos versos. Observemos a homonímia de"pomos" como verbo e substantivo, enfatizada ao se embutir sonoramente em "supomos" mostrando que os pomos dourados da felicidade só existem em nossa suposição, é esta ainda uma limitação da criatura humana: a 1ª pessoa do plural está bem marcada no emprego de 6 formas verbais, sendo 5 em posição de destaque no final dos versos. O morfema número- pessoal -mos que coincide com a última sílaba do substantivo pomos, o sintagma "a pomos" , que pode ser lido também como "há pomos" e o jogo expressivo das expressões negativas, afirmativas e exclusivas realçam o fracasso da ação e da insatisfação.
Temos de saber lidar com esta insatisfação, pois, como disse Mário Cortella: "Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não pronta e vai se fazendo." É este o grande desafio do ser humano.
Temos que resistir à sedução do repouso, da passividade, de gostar de achar tudo pronto. Nascemos para caminhar. A insatisfação é um elemento indispensável para quem deseja criar, inovar, modificar, aperfeiçoar o mundo e a si-próprio. Assumir este compromisso é aceitar o desafio de construir uma existência menos confortável, considerada menos "feliz", mas é a que leva à felicidade, ao ilimitado, ao infinitamente mais elevado, significativo e gratificante.
Viver feliz não é viver sem problemas, sem atribulações, é saber enfrentá-los, trabalhá-los. Felicidade não é imobilismo. É viver com a clareza de estar fazendo o que precisa ser feito.
Sejamos agora mais concretos.
Imaginemos uma criança que se divertisse tentando ela própria fazer uma instalação elétrica. Provavelmente, não conseguiria e poderia causar sérios prejuízos para ela e para os outros. Concluiríamos disso que a eletricidade não existe?
Com a felicidade é a mesma coisa. Como tudo no mundo, como a energia elétrica, o peso, o som etc., a felicidade EXISTE e tem suas leis. Passamos nossa vida transgredindo essas leis e, com ares de razão, negamos a nós mesmos a felicidade, já que nessas condições é impossível ser feliz.
O pensamento, a palavra, a luz, o som geram vibrações todo-poderosas. Pense alegria, amor, saúde, abundância, paz e você emanará ondas benéficas, como também atrairá tudo que condiz com essa programação radiante. Em contrapartida, alimente ideias de doença, desânimo, dificuldades...você construirá um muro entre você e a felicidade, assim como o para-raios atrai os raios, você atrairá calamidades.
Observe quantas vezes durante o dia você nega, em pensamento e palavras, aquilo que você mais deseja no mundo; você irá constatar que desfere muitas vezes a paulada da negação em sua esperança. Lembre-se sempre da lei da atração.
Seja criativo. Não se robotize, embora isto venha lhe causar rejeições e censuras. Cante com Ney Matogrosso a Balada do Louco.
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mais louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz...
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