sábado, 5 de setembro de 2009

n°5 O JARDIM

1. ECOLOGIA
A ecologia é uma das grandes e inadiáveis preocupações de nosso século. São urgentes as medidas para salvar a vida no planeta Terra. Tornaram-se comuns as caminhadas ecológicas, o uso da Internet para se evitar o gasto com o papel impresso, a campanha para não se usar o plástico. Até os financistas preferem as efígies das notas representando animais: o macaco, a onça, a tartaruga, a arara etc. viraram vedetes e ocupam o lugar dos políticos, dos heróis, já tão desacreditados! As capas dos carnês de cheques prestigiam belíssimas variedades de plantas. A mesma preocupação se nota na televisão, nos jornais, nas escolas, nas medidas administrativas em geral e assim por diante.
2. AS FLORES
Coincidindo com os ideais ecológicos, vamos destacar nossa predileção pela plantas, nosso encantamento por um jardim.
Sentimos mais alegria em contemplar um buquê de violetas com suas pétalas tecidas no céu que em ler qualquer livro de Filosofia. Olhando para um mal-me-quer/bem- me-quer, que invade os terrenos baldios e floresce em nossos dias de incertezas sentimentais, indagamos qual a ciência, qual a tecnologia que consegue criá-lo.
As plantas além do valor ornamental possuem outros valores assim é o medicinal que exigiria um enorme site para seu estudo.
Ainda desejamos citar sua ajuda para prevenir e controlar o ataque de pragas e doenças, pois apresentam propriedades repelentes e até inseticidas, como a arruda, a losna e o coentro. A hortelã e o gerânio afastam formigas e a capuchinha afasta os pulgões.
É verdade que as ervas daninhas nos ensinam lições à parte. São como nossos maus hábitos, persistem fortes. Temos que arrancá-las pela raiz se quisermos controlá-las e quando pensamos que se extinguiram, um broto vigoroso surge em um lugar inesperado. Temos que combatê-las sempre, para defender as plantas úteis que são muitas e nos ensinam diversas virtudes, com as quais nos ocuparemos um pouco mais adiante.
De todas as virtudes, parece-nos que a capacidade de adaptação e de sobrevivência nos lugares mais insólitos seja a mais admirável. Ficamos extasiados ao vermos uma plantinha brotando num muro, pedindo licença para voltar a ocupar o lugar que é seu por direito. A natureza é pródiga e basta dar-lhe uma oportunidade para que transforme nossos ambientes áridos em harmoniosos locais cheios de belezae graça.
Teve muita razão o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade(1902-1987), um dos maiores de todos os tempos e lugares, quando se enterneceu com uma flor que nasceu no asfalto. Narra o fato em seu poema "A flor e a náusea" do livro Rosa do Povo, nas 3 últimas estrofes. Tenhamos o prazer de lê-las:
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rios de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios
garanto que uma flor nasceu.
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Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
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Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura .
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
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Filosoficamente lindo!
(In Reunião, Livraria José Olympio Editora, 1969).
3. UM LABORATÓRIO ALQUÍMICO
A planta é a pedra filosofal que transforma o chumbo da poluição no ouro do ar puro. Sua seiva é o elixir da longa vida.
O jardim é o laboratório alquímico, onde aprendemos a cuidar da natureza e de nós mesmos. Podemos observar o desenvolvimento de cada planta sem procurar apressá-la. Temos que aprender a cultivar junto paciência, persistência e humildade. Em cada estação, necessidades diferentes se apresentam e requerem atenção. Há tempo de plantar, há tempo de podar e limpar, há tempo de extasiar-se e há tempo de colher. Parte da magia do jardim vem do trabalho que fazemos com nossas mãos.
Francis Bacon(1561-1626), filósofo que sistematizou o método indutivo e experimntal, comparou a doce respiração das flores na atmosfera com a harmonia da música e que nada pode deleitar tanto como sentir este perfume.
Esse laboratório mágico pode ser cultivado em qualquer área: no parapeito da janela, no canto da sala, na varanda etc. Sentir os cheiros, observar as texturas, surpreender-se com a exuberância das folhagens e das flores é também vivenciar Deus se manifestando, o que sempre acontece quando existe amor. Amor rima com flor. Com certeza, Deus está presente em cada jardim que conhecemos.
Há maior riqueza em alguns metros quadrados de jardim do que em todos os poços de petróleo que poluem a atmosfera e levam a tantas guerras. É a sensibilidade para este tipo de riqueza que deveria nortear as ações humanas. Precisamos descobrir o coração de jardineiro que existe dentro de nós. Aí teremos a certeza que a primavera sempre volta e tudo reverdece outra vez.
À nossa amiga maranhense, a escritora, enfermeira e "jardineira" que merecidamente se chama Flora.

3 comentários:

  1. É em busca da alquimia que, desde sempre, o homem significa a si mesmo e o seu ambiente.
    Os jardins, quais universidades naturais, pedagogizam conhecimento: sensibilidade, simplicidade, beleza, criatividade, paciência, esperança...
    Podemos ainda acreditar na utopia humana de que o homem poderá um dia libertar-se de tanta insensatez e ganância brutal, que a tudo devasta, e refazer seu jardim interior?
    Os poetas sempre acreditam...

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  2. Nosso jardim assemelha-se ao nosso caráter; passamos a vida tentando melhorá-lo, retirando pré ou maus conceitos e mesmo corrigindo comportamento. Porém se dermos uma vacilada, eles brotam tão rapidamente como ervas daninhas. Se quisermos ter melhor caráter temos que ser como os bons jardineiros que não negligenciam a manutenção diária do seu jardim.

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  3. A verdadeira viajem não consiste em sair 'a procura de novas paisagens, mas em possuir novos olhos.
    Marcel Proust.

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