Anna leu para mim seu poema: A teia
A aranha tece a teia.
A teia me tece.
Em todo lugar, a teia da aranha
me arranha
e me põe na tecedura do texto.
Texto é teia que me arranha
e com que arranho.
_ Ótimo, Anna. vamos a nossa teia.
As filosofias do ensino acadêmico giram quase sempre em torno de três eixos hipnoptizantes: origem-fim, natureza-sociedade, imanência-transcendência, mas tornam-se alienantes e opressivas porque são frias e não se abrem para a simultaneidade dos 6 polos. Falta-lhes às vezes a ética e, quase sempre, a estética. São rançosas, não têm um sabor agradável.
Procuramos tirar-lhes o ranço, não somos os primeiros, muitos outros já o tentaram.
Como já dissemos o blog "A Filosofia: o Saber com Sabor" seguirá em parte a linha do filósofo Epicuro, o erudito do prazer. Nossa preferência recairá em sua afirmação que a felicidade é o principal objetivo da vida.
Ele nasceu em 341 a.C. Pobre, teve uma existência difícil, numa Grécia subjugada e sacudida por diversas guerras e invasões. Após uma vida de ascetismo, serenidade e doçura, apesar da saúde extremamente abalada, com cálculos nos rins, morreu em meio a seus discípulos em 271 a. C. Foi, portanto, um pós-socrático.
Sócrates, a mais notável figura do pensamento helênico, viveu de 470 a 399 a.C. Achamos interessante transcrever os seguintes diálogos que Sócrates teve com Péricles, o presidente de Atenas, no século IV a.C.
P. _ O que é o saber?
S._ Eu sei que não sei nada. Mas este humilde conhecimento põe-me acima de quem sabe alguma coisa.
De outra feita:
P._ Sócrates, quero convidá-lo para assumir um posto no meu governo, pois preciso de muitos construtores para construir Atenas.
S._ Dignai~vos dispensar-me, presidente. Só construo homens. Eles têm que mergulhar os olhos no âmago de si mesmos, devem aprender a guiar a parelha de jaezes de sua alma, descendo a escada do bem e do mal, num passo conveniente. Cumpre-lhes adquirir a sabedoria mais elementar e mais difícil que diz: "Conhece-te a ti mesmo."
Cuidai vós de construir Atenas, Péricles, que eu estou construindo o ateniense.
Abrimos estes parênteses para localizarmos prazerosamente Epicuro na célebre filosofia grega antiga.
2. Um certo epicurismo moderno
Será este o nosso método, isto é, o caminho que seguiremos, tomando, por base o epicurismo atualizando-o e sem escravizar-nos a ele. Ora, fomos nós que afirmamos que não temos certezas inabaláveis. Não temos idéias fixas, consideramos a filosofia uma permanente interpretação e retificação de si-mesma. Nunca chegaremos a uma conclusão definitiva.
Buscaremos livros, hábitos, crenças, filmes, exemplos vividos, tudo que melhore nossa qualidade de vida para produzirmos mais e melhorarmos o mundo.
Ser epicurista não é correr atrás da felicidade. Ser epicurista é:
Não temer o divino nem a morte.
Viver com simplicidade e temperança.
Buscar o saber com sabedoria.
Fazer amigos e ser um bom amigo.
Ser honesto em seus negócios e em sua vida particular.
Satisfazer os desejos naturais.
Viver em perfeita harmonia com a ordem cósmica.
Sabemos que a felicidade está também na vida interior, sentimos a beatitude do Jardim de Epicuro, mesmo vivendo na época do frenético desenvolvimento capitalista. Evitamos os prazeres fugazes e ilusórios que se transformam em sofrimento. Mesmo no imenso e incessante acúmulo de mercadorias nesta época da "civilização " materialista, podemos adotar um estilo de vida epicurista.
Ninguém é feliz porque encontrou a felicidade. As pessoas são felizes porque encontram o significado de sua própria existência. A felicidade não é um objeto a ser perseguido, mas a consequencia de uma vida com sentido. Esta verdade pode ser confirmada na vida e na obra de Viktor Frankl, psiquiatra e psicólogo austríaco, criador de um método de tratamento psicológico que denominou logoterapia, uma das dissidências da psicanálise freudiana surgidas em Viena. Nasceu em 1905 e faleceu de parada cardíaca, em 1997, em Viena. Era judeu. Passou por quatro campos de concentração alemães entre 1942 e 1945, inclusive os de pior fama como o de Therezin (1942-1944) e o de Auschwitz (1944). Quando chegou em Auschwitz-onde morreriam sua mãe e seu irmão-, teve os manuscritos de seu livro destruídos. Mais tarde foi transferido para Kaufering und Tuerkheim (extensão dos campos de Dachau). Durate os anos de cativeiro, Frankl teve a sustentá-lo seu grande interesse pelo comportamento humano, concluindo depois que esse interesse o havia salvo e que aqueles companheiros de prisão que tinham uma esperança e davam um significado a suas vidas predominavam entre oas sobreviventes da selvageria e da fome a que todos tinham sido submetidos. Sobreviveu não apenas aos maus tratos e à fome, mas ainda a um ataque de febre tifóide, no último campo em que esteve internado. É oportuno comentar que em seu livro A presença ignorada de Deus
empiriamente mostra ao leitor como há no ser humano uma religiosidade e relação com Deus a nível inconsciente. Define esta situação como "a presença ignorada de Deus".
Não vamos discutir o ateísmo de Epicuro porque desejamos que cada um descubra o significado de sua vida e o Deus de seu coração. As possibilidades são muitas: através da religião (é o religare), e/ou de sociedades iniciáticas e/ou da psicoterapia. Este e/ou pode prolongar-se, por exemplo, do Surf, do Flamengo, da Arte, de sugestões da Televisão, da Internet, de Livros, de um Amigo, de um Animal et coetera. O importante é não formar compartimentos estanques, saber concatenar seus conhecimentos, suas experiências, não correr aflito sem direção. Nunca podemos aceitar tudo o que nos é oferecido. É imprescindível uma vigilância sem trégua para ser feliz e alcançar o sucesso, pois o sucesso é ser feliz como disse Roberto Shinyashiki.
"O homem, por força de sua dimensão espiritual, pode enconrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada", diz V.F.
ResponderExcluirPrecisamos viver acima das circunstâncias temporais e não deixar que dominem nosso nível de contentamento e sentido espiritual da vida.
Gosto muito dessas reflexões que, a todo o instante, nos conclamam ao redirecionamento da vida.
Parabéns pela sensibilidade. Continue...