Não somos aqueles autores donos absolutos de certezas irremovíveis e da claridade diurna.
Na última Semana Santa, estudamos e discutimos sobre a Paixão e Morte de Jesus, o Cristo e Anna, numa visão heterodoxa, elaborou o seguinte poema.
De Judas Iscariotes
_ Vem, Judas, venceremos todos os romanos
te darei uma coroa de brilhantes
governarás um reino poderoso e vasto
serás o príncipe de minha corte
o general invencível de meus exércitos.
_ Segui seus passos com boa vontade.
Nunca a promessa se cumpriu.
Jesus era um tocador de flauta.
Sua música impressionava meus ouvidos
e os outros ouvidos de toda a terra
onde os homens são eternamente jovens
e os dias só têm alvoradas.
As cordas de minha lira, diante dele, emudeciam.
Ele encatava e distraía multidões.
Fitava a lua e as estrelas.
Deitava na relva e conversava com as folhas.
Jesus era um 'boêmio".
E os romanos?
Continuavam com suas vestes de púrpura
embora não fiassem, não trabalhassem no tear
colhiam e amontoavam riquezas
embora não arassem nem semeassem
os soldados da legião devastavam nossos vinhedos
Jesus não os punia
embora fossem nossos inimigos.
Jesus chegou mesmo a dizer:
Dá a César o que é de César.
Se punires no corpo o homicida, o ladrão e a prostituta
teu próprio espírito escurecerá.
Deu vista aos cegos
fez andar os paralíticos
exorcizou demônios dos loucos.
Mas não curou a cegueira dos maus pensamentos.
Não curou os membros paralíticos dos ociosos.
Não curou a possessão dos exploradores do povo.
Deu vida aos mortos.
Isto é um milagre.
Mas este milagre se realiza em todos os verões
quando os galhos do flamboyant brotam
depois da sonolência do inverno.
A terra e os homens fazem milagres todos os dias.
Por isso aqui estou nesta sexta-feira.
Entreguei Jesus deNazaré aos seus inimigos
aos meus inimigos.
Cometi um crime e um pecado muito grave.
Ele que não viveu como um rei, morreu como um rei.
A História dirá Judas Iscariotes era ambicioso
por isso entregou Jesus de Nazaré a seus inimigos.
Traiu para ganhar dinheiro.
A História fará uma injustiça.
Eu considerava o Galileu um inimigo de minha raça,
um homem que me iludiu, não cumpriu sua promessa
Por que, Jesus, alimentavas tanta paixão por uma terra desconhecida?
Por que logo eu que ouvi a melodia de tuas canções
que vi a coluna de luz de tua força,
por que logo eu fiquei preso nos laços do parentesco e da pátria?
Por que fiquei procurando o reino deste mundo,
se eu era teu seguidor e teu reino é o do coração?
Meu coração está mais seco que o desrto
meu guardião é um cão bravo de três cabeças
minha vida é um cálice de amargura
minha videira, uma aranha
minha cama, um ninho de tempestades.
E eu te vejo, Jesus,
em todas as montanhas
em todas as ilhas
em todos os sorrisos
em todos os mares.
E vou me encontrar contigo HOJE
jogarei fora estas mãos sujas de sangue
como se fossem uma roupa velha ou uma comida estragada.
As vilas ruminarão os vômitos de anátemas
que entopem minha goelas
As larvas esperam os tremores de minha carne
os campos receberão meu esqueleto.
Sou o bode expiatório.
A humanidade fingirá não ter remorsos
E dirá que só Judas Iscariotes foi o traidor.
Perdoa-me, Jesus.
domingo, 11 de abril de 2010
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