segunda-feira, 11 de outubro de 2010

nº 18 A volta de Prometeu, o vencedor dos deuses


Cometemos um erro no final do blog nº 17 dizendo que Prometeu era filho de Zeus. Na verdade, era um adversário deZeus. Era filhode Jápeto e da ninfa oceânica Clímene. Mas era um diplomata como certos políticos de hoje e tinha sido admitido noOlimpo, onde Zeus, o deus dos deuses, fez sua casa, depois que destronou Cronos, seu pai.

Acontece que mesmo destronado, Cronos continua comendo tudo rapidamente, por isso corrói nosso tempo e, quase sempre, somos obrigados a demorar muito na publicação do jornalzinho Filosofia: O Saber com Sabor. Desculpe-nos.

Assim sendo, só hoje podemos voltar a falar sobre Prometeu, a que nos referimos no blog nº 12, convidando para desamarrá-lo, inclusive em nossa consciência e atos, pois os homens não conseguimos mais, de um modo geral, usar o fogo do conhecimento que ele nos oferece, apesar de Hércules tê-lo livrado dos grilhões. Muita gente ainda vive nas trevas da ignorância e da miséria.

É proveitoso, nesta volta, esclarecermos um pouco mais a respeito do citado mito.


Prometeu pertencia à nobre raça dos Titãs que combatiam Zeus, mas era muito habilidoso e tinha conseguido assento no Olimpo, o céu da mitologia grega, onde Zeus era senhor absoluto. O mencionado Titã havia criado os homens e tinha uma obsessão: dar às suas amadas criaturas um glorioso destino, proporcionando-lhes uma força poderosa: o fogo. Firme no seu intento, tomou um galho de uma árvore seca e velozmente subiu até o carro chamejante de Febo e trouxe no galho aceso a grande chama. Desceu com a labareda e protegeu-a contra o vento, para que não se apagasse.E passou-a com toda a sua força criadora e reveladora ao domínio dos homens. Um milagre aconteceu: ei-los senhores da luz. A luz que elimina a escuridão da noite, a chama que cozinha os alimentos, derrete os metais, enrijece a argila, protege do rigor do frio, anima as festas, as reuniões. Os homens iluminaram-se e cresceram. Os homens assumiram-se para o desespero de Zeus e de seus sequazes. Os humanos não temiam mais os deuses. E preparavam-se para construir seu próprio destino. Foi um marco incomparável no processo civilizatório da humanidade. Mas foi uma desgraça para Prometeu: tal ato de ousadia e rebeldia contra Zeus não poderia ficar sem uma punição.

E a vingança divina não falhou: Prometeu foi condenado a uma tortura de trinta séculos, a de ficar atado no cimo do monte Cáucaso, com o fígado diariamente devorado por uma águia voraz e refeito à noite, e novamente devorado dia após dia. Dia após dia, ele não se aniquilou, não proferiu nem uma palavra de súplica, pelo contrário, os ouvidos de Zeus tiveram de suportar seus terríveis impropérios durante os três mil anos que durou o castigo.

Zeus não suportou mais: mandou que Hércules livrasse Prometeu dos grilhões.

E para contrabalançar a posse do fogo, Zeus enviou Pandora, a primeira mulher que desceu à terra, para lançar a confusão entre os humanos, oferecendo-a a Prometeu que, muito sabido, não aceitou, mas seu frágil irmão , Epimeteu, não resistiu à tentação, casou-se com Pandora. Ela havia trazido uma caixa misteriosa que continha todos os males do mundo, aproveitando-se da ascendência que exercia sobre Epimeteu, deu-lhe a caixa e sussurrou-lhe sensualmente: _ Vem, abre... Ele abriu! E o mundo povoou-se de todas as desgraças. E eis que de repente, num inesperado gesto castrativo, Pandora fecha a caixa, e aprisiona o único bem que ali se abrigava: a esperança. Diante de tão bons resultados, Zeus mandou outras mulheres para excitarem e seduzirem os homens. Estes perderam a noção de sua própria grandeza e já não sabiam viver mais sem os deuses.

Terminou aí a narrativa mítica. Como todo mito é simbólico, polissêmico, vem das profundezas de nossa alma e é energético.


Dentre as numerosas possibilidades que se nos apresentam para ler a metáfora do fogo, no contexto estudado, escolhemos a do conhecimento divino, a do saber intelectual, a da razão. Este conhecimento propiciou ao homem não só o progresso material, já comentado em parte mas também concomitantemente, o progresso espiritual.
É no viés espiritual, místico que pretendemos apoiar nossas reflexões. Não recorreremos aos deuses do Olimpo nem aos olimpianos atuais da sociedade de consumo como os artistas da mídia ou os famosos jogadores de futebol ou outros. A Luz Maior vem do Deus-de- Nosso -Coração e este nos determinou que, na atual conjuntura, buscássemos sobretudo o conhecimento do Bem e do Mal, para nos ajudar a realmente desacorrentar Prometeu.
Perniciosos arquétipos e nosso inconsciente individual, sob a influência da História da Cultura, nos fazem pensar que o destino nos conduz ao erro, à dor, à infelicidade. Esclarecemos que o sofrimento enquanto ajuste por erros cometidos é compreendido e tolerado com base na lei da causa e efeito, denominada carma, e contribui para o refinamento do indivíduo. Não negamos o valor dos reveses da vida. Mas nascemos para ser felizes e não devemos viver na expectativa de receber constantemente uma punição determinada por um Deus ciumento, vingativo e tirânico. Deus não é bom nem mau, Deus é. O conceito de Bem e Mal só existe no homem e para o homem. Este colhe exatamente o que semeia.
Releia, então, o blog nº 10, "O Bem e o Mal". Está fácil, aí pertinho. Releia! Poderíamos escolher outro tema: a Música, a Poesia, a Geografia ou inúmeros outros. Escolhemos "O Bem e o Mal" por acharmos ser o principal estudo a ser realizado nesta oportunidade.
Queremos observar que durante a narrativa que focalizou o mito de Prometeu e a da outra do referido blog Nº 10, que conta a conhecida história da discussão entre um professor e um estudante, assistimos a uma luta de poder: Zeus X humanos liderados por Prometeu e professor X alunos. Os subalternos desafiam a autoridade e vencem. Por isso, os psicanalistas batizaram de complexo de Prometeu a um certo fenômeno que sintetiza todas as tendências a se querer saber tanto ou mais que os pais e mestres. Obviamente certo, em muitos casos.
Outras interpretações surgiram no espaço psicológico, ligadas a Prometeu. Por exemplo, o filósofo Gaston Bachelard liga o nome deste célebre Titã a sexo. Para Gaston essa história de fogo decorre da experiência de fricção que ocorre no ato sexual. E diz mais: "O amor é a primeira hipótese científica para a reprodução objetiva do fogo. Prometeu é um amante vigoroso, mais do que um filósofo inteligente e a vingança dos deuses é uma vingança de ciúme(...) " Adiante: " ...antes de ser filho da madeira, o fogo é filho do homem." Nunca tínhamos pensado nisto. E você? O leitor está livre para fazer do mito quantas leituras forem possíveis.
Como conclusão, desejamos dizer o seguinte:
Prometeu praticou a híbris , se arriscou. Deus não nos proporciona o fogo (na sua significação metafórica positiva), de uma só vez. Temos que adquiri-lo aos poucos, com método, num contínuo aperfeiçoamento, como as escolas fazem exigindo que a aprendizagem se divida em séries. Quando as autoridades eclesiásticas quiseram condenar Galileu, por ter descoberto que o centro do sistema planetário era o Sol e não a Terra como se pensava, ele se retratou. Prometeu foi audacioso, não se retratou e pagou caro por sua audácia. Quase sempre é melhor esperarmos a época certa para se realizar as conquistas e inovações necessárias.
Também é bom não nos esquecermos de que o Deus verdadeiro não é o "Outro", não é um homem barbudo sentado num trono. É o "Todo" do qual fazemos parte. Ele precisa de nós e nós precisamos dele. Esta é uma verdade linda e emocionante.
Desejamos ainda repetir as afirmativas formuladas no final do jornalzinho nº 12:
No alvorecer da era da Era de Aquário, temos a esperança de desamarrar realmente Prometeu, saindo das abstrações discursivas, para atingir a plenitude do conhecimento, proporcionando-nos a felicidade . Conquista esta que nos levará à harmonização com a consciência suprema e à eliminação da carência e da ignorância, rumo à experiência do magnífico triângulo da Luz, da Vida e do Amor.

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